sábado, 11 de fevereiro de 2006

Livro (3)

Ele encheu as almofadas, prendeu as peças e levou para o imperador. Durante o trajeto, pensou: “Quem será que me levou para casa ontem à noite? Eu me embriaguei e não me lembro. Essa pessoa me deixou nu! Coisa boa não aconteceu!”
Enquanto isso, do outro lado, Astitch ria a toa. Sua mãe, achando estranho, perguntou-lhe:
-Por quê rires sem motivo, minha doce filha?
-Eu fiz uma coisa em particular e estou me lembrando dela com muito prazer – retrucou a menina, com um tom inseguro na voz. –Foi uma realização fantástica para minha vida!
A mãe, notando a insegurança, resolveu não adentrar o assunto e continuou a fazer o casaco a rigor de Thor, enquanto Astitch pensava: “Coitado do Hieróletes! Ainda nem sabe que vai ser pai de uma criança de mãe de classe média!”
Alguns meses se passaram, e todos estavam preocupados com a guerra. Um dia, antes de ir para o trabalho, Hieróletes parou em um restaurante para comer e encontrou um grande amigo seu, Pubmoteu. Eles estavam conversando quando Pubmoteu lhe perguntou:
-E aí? Como vai a sua esposa?
-Que esposa? Eu não sou casado!
-Como não? Sua esposa espera um filho teu!
-Um filho? Mas eu não mantive relações com nenhuma... – Hieróltes parou de prontidão, o pensamento no dia da bebedeira, foi quando se deu conta. –Astitch!
-Quem? Quem diabos é As...
-Eu preciso ir! Tenho assuntos pessoais para tratar.
Ele correu o máximo que pôde e foi à casa de Ohana. Chegando lá, bateu palmas para virem atender a porta, e Ohana veio, com uma toga manchada de gordura, sangue animal e queimaduras, atender a porta:
-O que deseja, cavalheiro?
-Gostaria de falar com uma donzela residente aqui.
-Minha filha, Astitch?
-Sim, senhora!
-Que assuntos pretender falar-lhes?
-Assuntos pessoais, decerto não da sua conta!
-Minha filha não está, rapaz grosseiro! Ela foi visitar o dr. Ptolomeu Frates.
-Gostaria de saber o motivo.
-Minha filha está grávida de um nobre rapaz, trabalhante real do imperador.
-Posso saber o que este homem exerce?
Ohana contraiu os lábios e disse:
-Ele é serviçal pessoal do imperador.
-Não me diga! Pois saiba que EU sou serviçal pessoal do imperador da Grécia!
-Como disse? – Ohana parecia estar a ponto de um desmaio. –Você engravidou minha filha?
-Na verdade, minha senhora, foi sua filha que se engravidou.
Ele contou o que lembrava da noite de bebedeira, como achava que havia voltado para casa, como havia acordado e perdido quinze das suas trinta peças de prata do salário que ganhava do imperador. Ohana ouviu tudo sem fazer interrupções e, ao final, ela apenas disse:
-Minha filha nunca faria isso!
E fechou a porta na cara de Hieróletes. Ele saiu correndo para o trabalho e teve mais um dia cheio, apenas lembrando das palavras de Ohana “Minha filha nunca faria isso!” com muito nojo de si mesmo, de Ohana, de Astitch, até do imperador, que hoje parecia mais estressado que nos últimos meses, desde que Hieróletes havia se atrasado para o trabalho.
De noite, deitado em sua cama, com sua vestimenta de dormir, ele pensou: “Você não vai escapar de mim tão fácil, Astitch. Sua vida ainda vai dar muitas voltas e, numa dessas, você vai cair. Ah, vai! Me aguarde, Astitch Ragnök Sustyeërs! Me aguarde!”
Astitch, em um belo dia de sol em toda a Grécia, saiu para passear nos campos de lírios que seu tio Rastüs tinha no noroeste de Atenas. Então por muito tempo, ela ficou deitada entre os ramos de lírios que brotavam na terra e perto dos lírios que sorriam abertamente para o Sol.
Depois de algum tempo, ela ouviu passos. Mas não era seu tio, ele estava lutando na guerra e então, quem era? Eram passos decididos, firmes, fortes e bravios. Ela notou que boa coisa não ia acontecer na chegada do indivíuduo. Então ela se levantou e viu que era Hieróletes que vinha ao seu encontro. Ela viu uma expressão de fúria em seu rosto, como se ele fosse explodir em sua presença. E estava certa. Ao chegar perto dela, ela lhe disse:
-Bom dia, Hierozinho (era assim que ela o chamava docemente).
-Bom dia?! Bom dia?! Como você se atreve a dirigir a palavra para mim depois do que você fez? Hein, sua cretina vagabunda? Agora, você vai provar do próprio veneno!
-Eu não tenho culpa que você não queira ter sido meu marido por bem! Então tive que apelar!
-Apelar?! Você é uma ridícula que não sabe o que faz! Eu sou muito mais velho que você! Posso ser preso por isso, sabia?!
-Eu nunca pensei que fosse escutar isso de um rapaz tão nobre como você! Eu pensei que falaria melhor de mim! Chamaria-me de alguma coisa como “lirismo do mal”! Hahahahahahahahahahahha....
-Eu não acredito! EU NÃO ACREDITO! Depois de tudo o que fez, você ainda fala que deveria lhe chamar de “lirismo do mal”?! Eu não acredito que criei amizade com uma falsa donzela como você! Você é ridícula, idiota, imbecil, eu te odeio! Vagabunda!
-Saia daqui! Você está no território de minha família e eu não mereço gritos de um traste como você neste tipo de território! Ah, e tem mais: eu tenho catorze anos e você, vinte e três! Não é tanta diferença assim! São apenas nove anos!
Hieróletes bufou como um cão e saiu apressado, com cara de muito poucos amigos. Não pensara nunca na sua vida que uma mulher ia ter coragem de fazer isso com ele. Muito menos de uma mulher de classe média.