domingo, 12 de fevereiro de 2006

Livro (4)

Ohana estava preocupada que sua filha não havia voltado ainda. Foi quando Astitch chegou e bateu a porta furiosamente. Sua mãe, sem entender, lhe perguntou, em vão:
-O que houve, minha filha? Encontrou alguém que não queria?
Mas ela não ouviu. Ohana entendeu que ela estava passando por um momento difícil e decidiu não comentar. Ela sabia o que era isso. Então tudo passou como um filme mudo e descolorido em sua cabeça.
Ela estava com quinze anos, com muitas amigas que lhe ensinaram a fazer tricô. Um dia, Ohana foi a uma festa de família e conheceu lá um rapaz de família nobre, que havia chegado de Alexandria, no Egito. Sua família procurava uma casa e, por enquanto, eles estavam hospedados na casa de um tio de Meghary, mãe de Ohana. Então, quando seu olhar se cruzou com o dele, foi amor a primeira vista. Ohana e Thilstobar, o homem que se apaixonou, se casaram e tiveram seu primeiro filho, Nut. Mas, depois do nascimento de Nut, Thilstobar ficou diferente com Ohana. Ele ia para as festas, e quando chegava em casa, espancava sua esposa e seu filho. E ainda por cima, ele levava Ohana a força para cama com o objetivo de ter mais filhos para espanca-los. E foi daí que chegaram Thor, Teb, Fresc e por último, Astitch. Mas, quando Astitch nasceu, Ohana não deixava seu marida bater nela, pois ela era a única menina. Foi nessa época que Thilstobar recebeu uma intimação para ir lutar pela pátria na guerra. Meio a contragosto, ele aceitou e deixou seus filhos e mulher, para alívio de todos. Desde então, a vida deles havia se tornado mais fácil. Todos os filhos, exceto Astitch, começaram a trabalhar e indo para as festas com o único aviso de Ohana: não beber muito para não cair alcoolizado e acordar sem saber onde está.
Ohana estava tão distraída que nem notou que mexia a panela com a colher de pau há mais de uma hora, Teb e Fresc já haviam chegado, já tinham se banhado e estavam descansando em suas camas. Então ela voltou a realidade e continuou seus afazeres doméstico. Ela nunca havia se sentida tão grata por Thilstobar ter ido para a guerra e, há muito tempo, já se sentia viúva.
Era uma manhã bem iluminada, quando Ohana ouviu na praça central a voz de Thor ecoar em todos os cantos, com esta fala:
-De acordo com o imperador da Grécia, a Vsª Excelência Thurnodus IV, foi baixada uma lei em que diz: “O homem que for pego em flagrante de adultério ou espancando uma mulher será preso. Se caso for a esposa do espancador, o indivíduo será julgado pelo imperador e receberá a sua sentença.” Que assim se faça a ordem!
Ohana ficou feliz, mas ao mesmo tempo, triste por isso. Ela gostaria que prendessem seu marido, mas ele estava na guerra, a muitas léguas de Atenas. Foi quando Astitch falou:
-Minha querida mãe, estou indo dar um passeio. Não tenho hora para voltar. Meu dia será cheio.
-Aonde vai, filha?
-Irei acertar contas com uma certa pessoa.
-Você vai falar com seu namorado?
-Sim, mãe. Eu irei ter uma conversa com ele.
-Eu descobri toda a verdade, Astitch Ragnök Sustyeërs! Não adianta fazer nada! Eu já sei de tudo! Não adianta mais esconder nada! Seu “namorado” me contou o que você fez!
-O que eu fiz, minha mãe? – perguntou Astitch, com um tom cínico, porém inseguro.
-O que você fez?! O que você fez?! Você embriaga o rapaz, o leva para cama, engravida dele e ainda o faz perder metade de seu salário e você ainda pergunta o que fez? Eu não acredito que eu criei uma donzela como você! Você é tão idiota, tão ridícula, tão imbecil. Você é uma falsa! Eu não acredito que te protegi de seu pai! Devia ter deixado ele lhe quebrar inteira a socos e nocautes. Você é uma imprestável, traidora do próprio sangue, eu nunca vou perdoa-la!
-Acalme-se! Eu fiz isso porque ele não me quis por bem. Então, fiz ele me querer por mal!
-Então está bem... Eu tomei uma decisão... – Ohana disse calmamente, foi quando começou a gritar –Saia da minha casa! Agora!
-Como disse? Você quer que...
-Isso! Saia! Nunca mais quero ver a sua cara de bosta! Você não presta! Você devia então ir para o inferno! Hieróletes não merece uma pirralha como você! Saia daqui!
-Eu não mereço ser humilhada deste jeito! Por quê, na verdade, quem acabou sendo a vítima no passado foi meu pai! Eu devia ter amado-o mais quando ele estava aqui!
-O quê? – Ohana disse, com total incredulidade –Você está dizendo que, depois de tudo o que eu passei na vida, do jeito que te protegi, você diz que a vítima foi seu pai, e não eu! Agora sim... Fora! Arrume suas coisas e caia fora da minha casa! Agora!
-Ótimo! Eu também já estava cansada de aturar o tonto do Nut, o pateta do Teb, o ridículo do Thor e o irresponsável do Fresc! E de você também! Sua... sua... prostituta!
Isso caiu como uma bigorna em Ohana. Era demais ouvir isso de sua própria filha, que ela mesma havia protegido da fúria de ex-marido Thilstobar. Então ela foi até seu quarto e pegou uma das coisas que havia prometido nunca tocar, mas naquele caso, era necessário: a chibata de couro indiano de Thilstobar. Quando foi para a sala com a chibata empunhada, Astitch deu um grito de terror:
-Não faça isso! Você não teria coragem!
Decerto havia no rosto de Ohana uma expressão de nojo com o que estava fazendo, mas a vontade de realizar justiça venceu seu sentimento de pena e, do lado de fora, ouviam-se apenas os gritos horrorizados e tenebrosos de Astitch. Toda a Atenas olhava temerosa para a casa da desintegrada família Sustyeërs.

Ao chegar a noite em casa, caindo de cansaço, Hieróletes deu de cara com uma Astitch com os dois olhos roxos e com marcas de batida no rosto e na perna na porta de sua casa. Então, bravo como estava em relação a ela, lhe perguntou grosseiramente:
-O que você quer, hein? Sua vagabunda!
-Vim lhe pedir para morar em sua casa pois minha mãe me expulsou de casa.