O narrador assume, então, o personagem de bartender em um boteco onde Arnaldo vai parar. Os dois conversam sobre aquela sensação esquisita que domina o pobre homem, e Arnaldo fica ainda mais perdido do que já estava, na vã ilusão de entender o que é tudo aquilo. Enquanto isso, Marta liga para tia Lila, uma extravagante perua, que vai visitá-la e a encontra insone, preparando bolos e doces, além de um frango. As duas começam a discutir sobre a repentina mudança de comportamento de Arnaldo, e tia Lila conclui que ele é gay. Arnaldo, então, depois de passar a noite fora de casa, retorna, mas a conversa do casal sofre constantes interrupções, tanto de tia Lila quanto de um novo elemento - é Carnaval do lado de fora da casa de Arnaldo e Marta, e o narrador encarna um diabo (que tem um rabo com vida própria), que começa a conversar com os personagens, na tentativa de lhes mostrar a verdade por trás de tudo aquela situação inusitada.
O final da peça é lindo e surpreendente, e a história - uma fantasia filosófica sobre a existência humana e suas implicações - é uma bela lição sobre não se abandonar os sonhos para se viver uma realidade que só traz infelicidade. Mateus Solano, ator brasiliense que ganhou o país em 2013,ao viver Félix, o vilão mais cativante dos últimos tempos, na novela "Amor à Vida", volta para sua terra natal com uma peça de teatro, cujo texto foi concebido por sua esposa, Paula Braun, em sua estreia como dramaturga. Os outros atores também são igualmente incríveis - Karine Telles (Marta) interpreta com naturalidade uma personagem jogada em um mundo novo sem paraquedas; Isabel Cavalcanti (Lila) nos mostra uma personagem que cativa o público por meio de sua loucura; e Alcemar Vieira, que faz um narrador que se mostra simpático e misterioso, e interpreta outros dois papeis igualmente enigmáticos, mas fundamentais para a condução da história.
Durante o espetáculo, dois fatos chamaram bastante a minha atenção: Mateus Solano é um excelente cantor - ele canta trechos de diversas músicas ao longo da peça, e dança muito bem também - e sabe muito bem retribuir o carinho do público que o prestigia - em um determinado momento, ele relata à Lila algumas experiências homossexuais que teve no passado, e fica impossível dissociá-lo do marcante Félix Khoury neste momento. A peça é, sem dúvida, um lindo espetáculo, e já vale a pena assistir só pelo preparo cênico dos atores e pela história instigante e filosófica que ela conta.
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