domingo, 24 de agosto de 2014

Peça teatral "Do Tamanho do Mundo" - Apresentação de 23/08/2014

Se você tivesse a chance de mudar todas as escolhas que você fez para a sua vida, você correria atrás dos seus sonhos ou fixaria os pés na realidade? De forma sucinta, esta é a pergunta que guia a história da peça "Do Tamanho do Mundo", com texto de Paula Braun, direção de Jefferson Miranda, e que conta com Mateus Solano, Karine Telles, Alcemar Vieira e Isabel Cavalcanti. Na noite de sábado, fui à estreia da curtíssima temporada do espetáculo no Teatro Ulysses Guimarães, da Universidade Paulista (Unip), sozinho. Me sentei, quase como de costume, na primeira fileira da plateia, e vi uma história fantástica sobre um homem que acorda um dia sem se lembrar como andar, nem amarrar os sapatos, nem o que é trabalhar - ele é uma folha em branco, uma tabula rasa aristotélica. E é assim que começa a história da peça.


Arnaldo entra no palco caindo no chão, sem se lembrar como se fica em pé. Em seguida, sua esposa, Marta, chega de pijamas e o ajuda a se levantar. Enquanto isso, eles conversam e procuram se entender naquela situação. Enquanto isso, o narrador, interpretado por Alcemar Vieira, transita pela plateia contando mais daquele casal moderno, e de como Arnaldo está à beira de uma mudança total em sua vida. Enquanto isso, no palco, Arnaldo recupera o movimento das pernas, mas começa a se questionar sobre a vida que escolheu viver - seu emprego, o fato de ter deixado de tocar gaita na banda que tinha na faculdade, o porquê de ele e Marta não poderem tomar um vinho logo pela manhã,... Além disso, há um iminente jantar marcado na casa do casal, com um amigo que Arnaldo não se lembra se gosta ou não dele. Em meio a tudo isso, Arnaldo começa a questionar tudo à sua volta, e decide sair para conhecer aquele novo mundo que se abria à sua frente. Marta está confusa com aquela situação, mas está mais preocupada em viver sua vida quotidiana e resolver seus problemas.


O narrador assume, então, o personagem de bartender em um boteco onde Arnaldo vai parar. Os dois conversam sobre aquela sensação esquisita que domina o pobre homem, e Arnaldo fica ainda mais perdido do que já estava, na vã ilusão de entender o que é tudo aquilo. Enquanto isso, Marta liga para tia Lila, uma extravagante perua, que vai visitá-la e a encontra insone, preparando bolos e doces, além de um frango. As duas começam a discutir sobre a repentina mudança de comportamento de Arnaldo, e tia Lila conclui que ele é gay. Arnaldo, então, depois de passar a noite fora de casa, retorna, mas a conversa do casal sofre constantes interrupções, tanto de tia Lila quanto de um novo elemento - é Carnaval do lado de fora da casa de Arnaldo e Marta, e o narrador encarna um diabo (que tem um rabo com vida própria), que começa a conversar com os personagens, na tentativa de lhes mostrar a verdade por trás de tudo aquela situação inusitada. 


O final da peça é lindo e surpreendente, e a história - uma fantasia filosófica sobre a existência humana e suas implicações - é uma bela lição sobre não se abandonar os sonhos para se viver uma realidade que só traz infelicidade. Mateus Solano, ator brasiliense que ganhou o país em 2013,ao viver Félix, o vilão mais cativante dos últimos tempos, na novela "Amor à Vida", volta para sua terra natal com uma peça de teatro, cujo texto foi concebido por sua esposa, Paula Braun, em sua estreia como dramaturga. Os outros atores também são igualmente incríveis - Karine Telles (Marta) interpreta com naturalidade uma personagem jogada em um mundo novo sem paraquedas; Isabel Cavalcanti (Lila) nos mostra uma personagem que cativa o público por meio de sua loucura; e Alcemar Vieira, que faz um narrador que se mostra simpático e misterioso, e interpreta outros dois papeis igualmente enigmáticos, mas fundamentais para a condução da história. 


Durante o espetáculo, dois fatos chamaram bastante a minha atenção: Mateus Solano é um excelente cantor - ele canta trechos de diversas músicas ao longo da peça, e dança muito bem também - e sabe muito bem retribuir o carinho do público que o prestigia - em um determinado momento, ele relata à Lila algumas experiências homossexuais que teve no passado, e fica impossível dissociá-lo do marcante Félix Khoury neste momento. A peça é, sem dúvida, um lindo espetáculo, e já vale a pena assistir só pelo preparo cênico dos atores e pela história instigante e filosófica que ela conta.


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