Capa da edição francesa de "Jacques e Seu Amo", de autoria de Milan Kundera. Créditos: Gallimard
Cheguei ao Centro Cultural Banco do Brasil por volta de 19h30, posto que a apresentação estava marcada para às 20h. Com um público menor do que normalmente está presente nas peças do CCBB, o espetáculo começou com meros cinco minutos de atraso - acredite, isso é ínfimo perto de outras peças que assisti neste mesmo teatro. Em cena, um cenário inteiriço de pano, que vinha do teto até o chão, transbordando as bordas do palco, além de estruturas de madeiras com formatos similares a escadas mas que, no entanto, não são usadas para este fim no decorrer da história, e sete atores, que se revezam entre vários personagens para dar liga às histórias contadas por Jacques, por seu amo e, mais à frente da história, pela taberneira tagarela.
Créditos: João Caldas/ Divulgação
Os grandes destaques são, obviamente, seus protagonistas: Jacques, o criado insolente e atrevido, interpretado com leveza e avidez por Angelo Brandini, é uma versão tcheca de João Grilo, o famoso contador de causos do "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, e faz de sua esperteza seu maior trunfo para sempre se atrelar às histórias que conta e às que ouve; o amo, que nunca tem seu nome revelado, interpretado por Edgar Bustamante, é um banana medroso e melindroso, mas garante ótimas cenas quando está apenas com Jacques no palco. Além deles, a taberneira, interpretada por Renata Zhaneta, a fogosa Justine, interpretada por Greta Antoine, e a prostituta senil, interpretada por Ando Camargo, são as outras personagens mais marcantes da peça. Completam o elenco, em papeis menores porém não menos importantes para a narrativa, Raul Figueiredo e Felipe Ramos.
Créditos: João Caldas/ Divulgação
Os principais causos em cena são: a história de amor confusa e cheia de reviravoltas de Jacques; o romance fracassado do amo, por conta de uma traição por seu melhor amigo; e a vingança de uma marquesa esnobada pelo homem que tanto amava. No fundo, as três histórias são apenas uma só: o naufrágio do amor e a linha tênue que há entre amizade sincera e traição da confiança do outro. Todas elas são permeadas por conflitos, e acabam por mostrar a análise do comportamento humano ante as adversidades da vida sentimental.
Créditos: João Caldas/ Divulgação
Com muitas cenas de nonsense e de comédia do absurdo, "Jacques e Seu Amo", à primeira vista, parece apenas uma peça engraçada, mas não se deixe enganar - a profundidade da mensagem de Kundera é surreal, e vai te surpreender quando você entender o real significado de todas aquelas histórias. Com certeza, um ótimo espetáculo para se ver em família, porque vai entreter a todas as faixas etárias e, de quebra, passar uma lição em todos que não valorizam apropriadamente as amizades. Ao fim do espetáculo, tive a oportunidade de conversar brevemente com Greta Antoine - a qual acompanho a carreira desde 2002, quando ela interpretava a Rouxinol no seriado infanto-juvenil "Ilha Rá-Tim-Bum", produzido pela TV Cultura - e ainda tirei uma foto e peguei um autógrafo dela, que foi muito solícita e simpática, fazendo valer ainda mais toda a alegria que me transbordava depois das gostosas gargalhadas que eu dera durante a peça. Aliás, a cena em que o amo se perde totalmente em uma de suas falas depois de um caco de Jacques foi hilária, e serviu para mostrar ao público que é essa a essência do teatro - é ao vivo, é em cima do palco, e só o improviso salva! Ótimo espetáculo!
Créditos: Arquivo pessoal
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