domingo, 7 de agosto de 2016

Peça "Morte Acidental de um Anarquista" - Apresentação de 07/08/2016

A comédia é um dos gêneros teatrais mais espinhosos deste ramo, posto que, se o ator em cena não estiver totalmente entregue ao ridículo sem temer parecer ridículo, ele está fadado à canastrice. Portanto, apresentar o complexo modelo de comédia do roteiro de "Morte Acidental de um Anarquista", texto originalmente em italiano do célebre comediante Dario Fo, era um grande desafio para o elenco em cena - e que, felizmente, cumpriu com louvor a dura tarefa e fez desta apresentação uma das engraçadas que já tive oportunidade de prestigiar.

Créditos: Bilheteria Express/ Divulgação

Créditos: Caio César Mancin

"Morte Acidental de um Anarquista" é um conto farsesco sobre a investigação policial e midiática do suposto suicídio de Giuseppe Pinelli, um anarquista preso pela polícia italiana acusado de plantar bombas em um banco, no intuito de roubá-lo, e que foi encontrado morto depois de cair do quarto andar do prédio da polícia - o mistério da peça original de Dario Fo, escrita na época do crime, o qual ainda não tinha sido resolvido, era justamente se Pinelli se jogou ou se foi jogado da janela. No entanto, Pinelli sequer é mostrado na peça - quem representa toda a sua história é O Maníaco, uma figura mentalmente insana que já passou por dezesseis instituições psiquiátricas e já foi preso inúmeras vezes por falsidade ideológica. O Maníaco, na montagem dirigida por Hugo Coelho, é interpretado por Dan Stulbach, que entrega um personagem organicamente hilário. Além de Stulbach, o elenco também conta com Henrique Stroeter, Riba Carlovich, Fernando Sampaio, Maíra Chasseraux e Rodrigo Bella Dona - este último, também responsável pela iluminação e sonoplastia. Além dos atores, a peça também conta com Rodrigo Geribello ao teclado elétrico, que faz a trilha sonora ao vivo, além de efeitos de sonoplastia com a voz.

Créditos: Caio César Mancin

Créditos: Caio César Mancin

Antes de a peça, de fato, começar, os atores entram em cena do meio da plateia, cantando e tocando instrumentos em uma fanfarra sobre o enredo da peça. Em seguida, eles explicam um pouco sobre a vida e a obra de Dario Fo, o primeiro dramaturgo de comédia a ganhar um Prêmio Nobel de Literatura, além de falar da história real na qual o autor se baseou para escrever o roteiro da peça. Depois de explicarem tudo sobre o espetáculo, e de tirarem dúvidas da plateia, os atores fazem uma roda no meio do palco para se energizarem, e o espetáculo começa de vez - logo após, é claro, a terceira campainha, personificada magistralmente por Geribello. Ao longo do enredo, O Maníaco assume diversas personalidades e dá vazão à sua criatividade inventando trejeitos e vozes para seus personagens, ao mesmo tempo em que enlouquece todos em cena com suas presepadas. Os outros personagens são igualmente engraçados, mas porque se levam a sério. Além de Stulbach, destaco a performance irretocável de Riba Carlovich, que tem uma grave porém afinada voz para a música - ele, junto de Stulbach e de Marcelo Castro, fazem um número musical hilário e divertidíssimo.

Créditos: Caio César Mancin

Créditos: O Estado/ João Caldas

Em suma, a peça é uma grande farsa sobre a moralidade da política e das instituições que supostamente deveriam proteger os cidadãos, mas que, ao invés disso, amedronta-os e coage-los. No atual momento político brasileiro, o recado está dado, e não haveria de ser mais claro. Sem dúvida, assistiria novamente, só para gargalhar um pouco mais com as bobices d'O Maníaco.

Créditos: Heloísa Bortz

Créditos: Arquivo pessoal

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