sábado, 13 de agosto de 2016

Peça teatral "Frida Y Diego" - Apresentação de 13/08/2016

A história de amor entre os artistas plásticos mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera é recheada de momentos marcantes e de passagens tão peculiares que, certamente, dariam um bom filme - como, de fato, deu, em 2002, com o lançamento de "Frida", estrelado por Salma Hayek no papel de Kahlo e Alfred Molina como Rivera, dirigido por Julie Taymor. Mais do que isso, esse romance tão tempestuoso e, ao mesmo tempo, tão ardente tem material suficiente para se expandir por todas as artes. E é justamente aqui que começo a falar da peça "Frida Y Diego", com roteiro de Maria Adelaide Amaral, direção de Eduardo Figueiredo, e estrelada por Leona Cavalli e José Rubens Chachá.

Créditos: O Café/ Divulgação

Para aqueles que já tiveram algum contato com biografias dos artistas, seja de Frida, seja de Diego, sabe que a história deles tinha, sim, muito amor e muito sexo, mas também muitas traições (de ambas as partes, vale ressaltar) e conflitos causados pelo temperamento explosivo de Frida. No entanto, a peça de Amaral mostra as brigas do casal de forma nua e crua, sem muitas firulas e com muitos palavrões e vulgaridade. Em cena, Cavalli, possuída por uma entidade aloprada, traz uma Frida Kahlo impiedosa e amargurada, que sofre constantemente com dores herdadas da poliomielite que lhe acometeu na infância e do acidente de bonde que lhe causou danos irreparáveis na coluna. Além disso, fica bem explícito também o desejo infelizmente inalcançável de Frida para ter um filho - o acidente danificou também seu sistema reprodutor, posto que a barra de ferro que atravessou seu corpo lhe penetrou pelo quadril e saiu por sua vagina. A amargura de Kahlo é, no entanto, contraposta pela alegria e boemia de Rivera, que transbordava irreverência e canalhice - mesmo casado, transava com inúmeras mulheres por afirmar que a fidelidade é uma virtude capitalista (Rivera e Kahlo eram comunistas).

Créditos: Setor VIP/ Divulgação

A peça se passa entre os anos de 1929 e 1954, e mostra a construção e a deterioração do casamento dos artistas. Além dos conflitos por conta de infidelidade, a relação dos dois sofria com o desejo de Frida pela maternidade que ela jamais conseguiu levar adiante, com o alcoolismo irrefreável da pintora, e com as constantes mudanças de residência devido ao comportamento político errático de Rivera enquanto comunista. A história se passa em várias cidades dos Estados Unidos e do México, como Detroit, Nova York, Cidade do México, Coyocán, entre outras - mas todas se materializam em um mesmo cenário, que conta com panos brancos nos quais são projetadas imagens de obras de ambos e de vídeos especialmente produzidos para a peça. Aliás, antes de abrirem as cortinas do Teatro Unip, foi exibido nelas um belíssimo videoclipe, introduzindo o público à obra de Kahlo e Rivera, acompanhado de uma linda música executada ao vivo pela banda que acompanha a produção - uma dupla, que toca acordeom e violoncelo, produzindo músicas mexicanas de qualidade e que casam muito bem com o clima da história.

Créditos: O Sul/ Divulgação

Apesar de muito me interessar a história de Frida Kahlo, achei a produção teatral mediana - não é um espetáculo ruim, porém os atores se prendem muito a seus personagens de forma mecanizada, não tendo espaço para a identificação do público para com estes. Leona Cavalli faz um excelente trabalho na pele da pintora, mas poderia, certamente, ter se entregue mais à emoção do papel - suas cenas mais dramáticas, como, por exemplo, nos abortos sofridos por Kahlo, foram meramente falastronas e não convencem. José Rubens Chachá, por sua vez, nos entrega um Diego Rivera muito pacífico, e tampouco convence como comunista quando discursa sobre tal ideologia política - seus pontos altos na história são as músicas que ele canta junto da banda, com uma pouco confiante porém extremamente versátil voz de tenor. A química do casal talvez seja o que salva a peça de ser ruim - não apenas é visível a amizade entre os atores, como também as brigas de Kahlo e Rivera eram apenas desculpas para movimentar o sentimento de um pelo outro.

Créditos: UOL/ Divulgação

"Frida Y Diego" é, sim, uma boa peça, mas dois cuidados são necessários: 1) a história é pesada e com fortíssima carga dramática, portanto prepare os lenços - se não tiver estômago para ouvir a detalhada descrição de Frida Kahlo para o acidente de bonde, melhor nem ir; e 2) o roteiro é fraco, e talvez seja a maior falha da peça, que tem em seus atores a salvação do fiasco - Maria Adelaide Amaral, apesar de notória por seus roteiros para a televisão, não acerta nessa peça de teatro. Mesmo com todas as minhas contraindicações, recomendo, sim, assistir ao espetáculo - assim, você pode tirar suas próprias conclusões.

 Créditos: Jornal da Paraíba/ Divulgação

Créditos: The Red List/ Nickolas Muray

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