Créditos: O Café/ Divulgação
Para aqueles que já tiveram algum contato com biografias dos artistas, seja de Frida, seja de Diego, sabe que a história deles tinha, sim, muito amor e muito sexo, mas também muitas traições (de ambas as partes, vale ressaltar) e conflitos causados pelo temperamento explosivo de Frida. No entanto, a peça de Amaral mostra as brigas do casal de forma nua e crua, sem muitas firulas e com muitos palavrões e vulgaridade. Em cena, Cavalli, possuída por uma entidade aloprada, traz uma Frida Kahlo impiedosa e amargurada, que sofre constantemente com dores herdadas da poliomielite que lhe acometeu na infância e do acidente de bonde que lhe causou danos irreparáveis na coluna. Além disso, fica bem explícito também o desejo infelizmente inalcançável de Frida para ter um filho - o acidente danificou também seu sistema reprodutor, posto que a barra de ferro que atravessou seu corpo lhe penetrou pelo quadril e saiu por sua vagina. A amargura de Kahlo é, no entanto, contraposta pela alegria e boemia de Rivera, que transbordava irreverência e canalhice - mesmo casado, transava com inúmeras mulheres por afirmar que a fidelidade é uma virtude capitalista (Rivera e Kahlo eram comunistas).
Créditos: Setor VIP/ Divulgação
A peça se passa entre os anos de 1929 e 1954, e mostra a construção e a deterioração do casamento dos artistas. Além dos conflitos por conta de infidelidade, a relação dos dois sofria com o desejo de Frida pela maternidade que ela jamais conseguiu levar adiante, com o alcoolismo irrefreável da pintora, e com as constantes mudanças de residência devido ao comportamento político errático de Rivera enquanto comunista. A história se passa em várias cidades dos Estados Unidos e do México, como Detroit, Nova York, Cidade do México, Coyocán, entre outras - mas todas se materializam em um mesmo cenário, que conta com panos brancos nos quais são projetadas imagens de obras de ambos e de vídeos especialmente produzidos para a peça. Aliás, antes de abrirem as cortinas do Teatro Unip, foi exibido nelas um belíssimo videoclipe, introduzindo o público à obra de Kahlo e Rivera, acompanhado de uma linda música executada ao vivo pela banda que acompanha a produção - uma dupla, que toca acordeom e violoncelo, produzindo músicas mexicanas de qualidade e que casam muito bem com o clima da história.
Créditos: O Sul/ Divulgação
Apesar de muito me interessar a história de Frida Kahlo, achei a produção teatral mediana - não é um espetáculo ruim, porém os atores se prendem muito a seus personagens de forma mecanizada, não tendo espaço para a identificação do público para com estes. Leona Cavalli faz um excelente trabalho na pele da pintora, mas poderia, certamente, ter se entregue mais à emoção do papel - suas cenas mais dramáticas, como, por exemplo, nos abortos sofridos por Kahlo, foram meramente falastronas e não convencem. José Rubens Chachá, por sua vez, nos entrega um Diego Rivera muito pacífico, e tampouco convence como comunista quando discursa sobre tal ideologia política - seus pontos altos na história são as músicas que ele canta junto da banda, com uma pouco confiante porém extremamente versátil voz de tenor. A química do casal talvez seja o que salva a peça de ser ruim - não apenas é visível a amizade entre os atores, como também as brigas de Kahlo e Rivera eram apenas desculpas para movimentar o sentimento de um pelo outro.
Créditos: UOL/ Divulgação
"Frida Y Diego" é, sim, uma boa peça, mas dois cuidados são necessários: 1) a história é pesada e com fortíssima carga dramática, portanto prepare os lenços - se não tiver estômago para ouvir a detalhada descrição de Frida Kahlo para o acidente de bonde, melhor nem ir; e 2) o roteiro é fraco, e talvez seja a maior falha da peça, que tem em seus atores a salvação do fiasco - Maria Adelaide Amaral, apesar de notória por seus roteiros para a televisão, não acerta nessa peça de teatro. Mesmo com todas as minhas contraindicações, recomendo, sim, assistir ao espetáculo - assim, você pode tirar suas próprias conclusões.
Créditos: Jornal da Paraíba/ Divulgação
Créditos: The Red List/ Nickolas Muray
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