O “Projeto Covers” faz parte do
Circuito Cultural Banco do Brasil, e conta com shows de artistas consagrados
interpretando sucessos de outros artistas igualmente lendários. Na escala que
tal projeto aterrissou em Brasília, está: Sandy interpretando clássicos do Rei
do Pop Michael Jackson; Maria Bethânia interpretando clássicos de Chico
Buarque, de quem já gravou inúmeras composições; e Lulu Santos relendo os
grandes inspiradores de sua carreira, o Tremendão Erasmo Carlos e o Rei Roberto
Carlos.
Eu assisti apenas ao show da
Sandy, porque admito que não sou um grande fã de Maria Bethânia nem de Lulu
Santos, mas também adianto que foi um imenso prazer e uma adorável surpresa as
releituras de Sandy para grandes hits
de Michael Jackson. Como um fervoroso fã, pesquisei todo o repertório do show
uma semana antes e até tentei decorar algumas letras, mas Michael tem letras
muito longas e não daria para decorar tudo em apenas uma semana.
O show de Sandy foi o primeiro da
série: dia 9, tem Maria Bethânia cantando Chico, e dia 10, Lulu Santos cantando
Erasmo & Roberto. Previsto para começar às 21h, o espetáculo começou com
apenas 10 minutos de atraso, e Sandy já abriu com a clássica “Bad”, do álbum
homônimo de 1987. Mostrando ginga e bem-humorada, a cantora ensaiou passos de
dança e deu gritinhos tão agudos quantos os de Michael.
Sandy falou bastante de Michael
Jackson, e da influência deste tanto em sua carreira como em sua vida pessoal –
por meio das lições de vida que ele deixou como legado e pelo fato de ambos
terem começado muito cedo a fazer sucesso na música. Seguindo, ela interpretou “Smooth
Criminal”, “Rock With You” (uma de minhas prediletas da carreira do Rei do
Pop), “Human Nature” (superando – e muito – a versão deprimente que Ivete
Sangalo fez em pleno Madison Square Garden) e, então, “Ben”.
Não posso negar – chorei durante
essa música inteira. Não só a letra é linda e uma lição de amizade, como a
interpretação tocante e simples de Sandy me fez marejar do terceiro verso em
diante. Com muita dificuldade, filmei toda a performance com meu iPhone 3GS. A
acústica da Sala Villa-Lobos, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, onde ocorreu
a apresentação, é péssima e, algumas vezes, o som ficava quase indistinguível.
Apesar disso, a captura de áudio do meu iPhone foi ótima, e dá pra escutar
direitinho cada música (sim, eu gravei pelo menos um trecho de cada música que
Sandy cantou).
Logo em seguida, veio “Music and
Me”, “I’ll Be There” (outra magnífica performance dessa estrela), “Blame on the
Boogie” (iniciando a fase “disco” de Michael), “The Way You Make Me Feel”, I
Want You Back”, “Man in the Mirror” (antes da qual Sandy discorreu sobre as
mais variadas formas que Michael tinha de cantar sobre o amor, e de como ele
tinha respeito pela natureza e pedia por sua proteção), e, então, “Earth Song”.
Essa música me provocou certo
calafrio: ouvir, depois de dois anos de seu falecimento, Michael Jackson
recitando o poema que antecede “Earth Song” foi um pouco assustador, mas,
certamente, um alento aos fãs desamparados que foram ao show em busca de uma
esperança no que tange ao legado do Rei do Pop. Sandy cantou e encantou lindamente,
e a plateia foi efusiva nos aplausos depois dessa música. Já finda a era “disco”
de Michael, Sandy interpretou um B-side do Rei do Pop (ou, como disse ela, um “lado
C”, de tão esquecida que essa música foi no álbum “Bad”), “Leave Me Alone”.
Logo em seguida, uma música com
um arranjo bem diferente começou a tocar. Poucos entenderam de qual hit de Jackson se tratava, mas a
roupagem quase jazzística que Sandy deu a “Billie Jean” foi um tanto inusitada
quanto apreciada. Sou um grande fã dessa música, e Sandy soube fazer dela um
ponto alto de seu show. A cantora saiu de cena um instante, pôs uma luva de
brilhantes e uma jaqueta vermelha, e já entrou dançando a clássica “Thriller”.
Devo admitir que não curti muito
essa interpretação feita por Sandy, mas é “Thriller” e é impossível ficar
indiferente a esse mega sucesso de Michael Jackson. Aliás, aí está algo que
vocês raramente me verão fazendo: criticando a Sandy. Só faço essa crítica
porque acredito que, se essa música tivesse sido embalada numa roupagem
diferente, eu teria gostado mais. De qualquer jeito, esse foi o único ponto
fraco do show para mim – até porque subir num palco e cantar só Michael Jackson
exige uma coragem imensa e um talento indiscutível e, como disse uma vez Rita
Lee, “isso não é para maricas”.
Logo em seguida, Sandy cantou “Gone
Too Soon”, canção um tanto desconhecida do grande público de Michael, e
encerrou o show com “Don’t Stop Till You Get Enough”, um dos grandes hits da era “disco” da carreira do Rei
do Pop. O público, a essa altura, se levantou e cantou e aplaudiu Sandy de pé.
Ela estava um tanto gripada e rouca (sua performance de “Ben” foi bem
complicada, devido aos agudos que a canção exige), mas não fez feio e arrasou a
Sala Villa-Lobos. Fiquei bem curioso para saber como são os outros shows do “Projeto
Covers”, mas, agora, só procurando no YouTube para saber.
Gostei muito do show – bem, sou
suspeito para falar porque sou apaixonado pela Sandy, por sua voz, por sua musicalidade,
por sua versatilidade e por sua beleza, desde muitos anos atrás – e penso que
Sandy fez um excelente trabalho de reinterpretação do repertório tão vasto de
Michael Jackson. Apesar de eu não ter gostado da performance de “Thriller”,
posso dizer cegamente que amei todas as outras e que os arranjos não descaracterizaram
o pop que emana das músicas do Rei nem ficaram artificiais para a voz afinada
de Sandy. Em suma, Sandy foi sublime, e a escolha por Michael Jackson foi mais
do que acertada.
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