terça-feira, 5 de agosto de 2014

Foco de Luz ou Super Trouper - Parte IX

Olá, pessoas!

Hoje teremos a penúltima parte do conto "Foco de Luz ou Super Trouper", de minha autoria! Mas antes tenho uma notícia linda pra vocês: saiu o novo JUKEBOX! O disco escolhido foi "The Book of Secrets", lançado em 1997 pela cantora e compositora canadense Loreena McKennitt! Acessem a página do JUKEBOX no Música Na Vida e assistam!

Agora, vamos à história!

Abraços,
Caio César.

***

"The gods may throw a dice / Their minds as cold as ice / And someone way down here / Loses someone dear" (The Winner Takes It All - ABBA)

- Qual é o quarto, senhor? - perguntou a atendente do hospital.

- Não é quarto, é UTI - respondeu Gustavo.

- Identidade, por favor?

Sem nada dizer, Gustavo tirou a identidade de dentro da carteira de couro falso e entregou para a mulher. Em poucos segundos, já estava com seu crachá, a caminho da UTI. Ao chegar lá, Olívia o aguardava do lado de fora da sala. Os dois se abraçaram, e Gustavo disse:

- Olívia, esta é a Raquel, minha namorada.

A garota loira, de pele morena e olhos castanhos, fitou Olívia, e a cumprimentou com dois beijos no rosto. Então, Raquel disse:

- É um prazer conhecer você, Olívia. O Gu fala muito de você!

- Ele também me fala muito de você... Parece até que eu já te conheço, de tanto que eu sei sobre você!

- Espero que o Gu só tenha dito as partes boas! - e deu um sorriso leve e contido.

Todos se olharam mutuamente, e entraram na Unidade de Tratamento Intensivo. André, o pai de Gustavo, estava totalmente careca, e havia dois tubos ligados à sua cabeça, além de diversos eletrodos pelo corpo e de uma máscara de oxigênio entre sua boca e seu nariz. O homem estava bem mais magro do que Gustavo podia se lembrar, e sua pele estava amarelada e viscosa. Ele se aproximou, e viu que o pai estava de olhos fechados. Engolindo em seco, Gustavo lhe toca o braço. O velho abre os olhos com dificuldade, mas ele consegue ver o filho. Gustavo, trêmulo, fala:

- Oi...

André olha e parece analisar cada milímetro do rosto do filho.

- Sou eu... Gustavo...

Lágrimas começam a rolar dos olhos de André, que mexe a boca e parece querer falar algo. Gustavo fica aflito, e olha para a irmã. Olívia, então, diz:

- Pode tirar a máscara um pouco...

Gustavo, ainda muito nervoso, levanta a máscara de oxigênio do pai, que fala ofegante:

- Filho...

- Pai... - ele começa a chorar junto com o pai.

- Você... Muito tempo... Longe...

- Eu sei, pai... Me desculpe, mas era o único jeito de eu conseguir ser feliz e me realizar...

- Eu... Arrependo... Nunca... Devia... De casa...

- Eu também não agi corretamente, pai... Como eu fui imaturo... Eu era muito novo...

- Sua mãe... Te ama....

- Eu sei, pai. Eu também amo muito a mãe...

- Você... Perdoa?

- Você? - o velho assentiu levemente com a cabeça - Sim, pai... Eu perdoo o senhor. E peço perdão também. - ele começa a chorar compulsivamente, e vai escorregando pela lateral da maca - Desculpe por tudo que eu causei a você e à mamãe! Vocês não mereciam!

- Calma, Tavinho... - Olívia o ajuda a se reerguer, enquanto Raquel arruma a maca, que se mexeu com a força de Gustavo.

- Filho...

- Oi, pai...

- Essa... Moça...

- Pai, essa é a Raquel. Ela é minha namorada há três anos. Vamos nos casar assim que eu terminar a faculdade.

- Casar... Você... Bom... Filho...

- Acho melhor colocar a máscara de volta nele, não? - indagou Raquel.

- Também acho! - Olívia disse, e já foi recolocar a máscara.

Já de máscara, André mexeu a boca novamente, e Gustavo se aproximou bastante, quando escutou:

- Eu... Te... Amo... Filho... - a última palavra veio seguida de um barulho agudo vindo do monitor cardíaco.

Os médicos tentaram, sem sucesso, reanimá-lo. Olívia e Gustavo choravam, enquanto Raquel os consolava. André morreu às dezoito horas daquela quarta-feira de janeiro. Nieta, a mãe dos irmãos, morreu dois dias depois, sem saber da morte do marido, mas sentindo que este já se fora para o plano superior.

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