domingo, 12 de julho de 2015

Peça teatral "Grease - Nos Tempos da Brilhantina" - Apresentações do dia 11/07/2015

Há algumas semanas o Música Na Vida realizou uma reportagem especial - a primeira de sua história - sobre a montagem acadêmica do grande clássico da Broadway e do cinema, "Grease - Nos Tempos da Brilhantina". Neste dia 11 de julho foi o grande dia de conferir bem de perto o resultado de tanto trabalho e esforço do elenco e da equipe técnica da Actus Produções. O espetáculo está realizando curta temporada no Teatro Brasília (formalmente Teatro Oi Brasília), localizado no complexo de hotéis Royal Tulip (anteriormente conhecido como Blue Tree). Para não perder nenhuma detalhe da peça, o Música Na Vida foi gentilmente convidado pela diretora-geral, Élia Cavalcante, e pela produtora, Ana Paula Martins, para assistir às duas sessões do dia de "Grease" - uma, às 17h, e a outra, às 21h. A fim de cobrir integralmente o espetáculo, este relato será dividido em três partes, unidas em um mesmo post. A primeira parte relatará a sessão das 17h; a segunda, a sessão das 21h; e a terceira, uma visão geral sobre " Grease - Nos Tempos da Brilhantina".


"Grease" é o que há

A primeira apresentação, ocorrida às 17h20, me veio com um elemento-surpresa: a personagem Sandy seria encarnada pela sua stand-in, Tatiana Moniz. Confesso que fiquei surpreso, porém não desapontado: Moniz já destacara no ensaio aberto, que o Música Na Vida conferiu, como a atrapalhada Frenchie, e certamente tem potencial para desempenhar bem o papel de protagonista. De acordo com Élia Cavalcante, a escalação de uma stand-in para Sandy foi de última hora, e foi um pedido que Tatiana Moniz agarrou com unhas e dentes. Seu timbre de voz é completamente adequado para o papel, representado no filme homônimo pela estrela Olivia Newton-John, e sua graciosidade em cena denota uma Sandy deslocada porém determinada.


Para realizar a troca de personagens, quem assume o papel de Frenchie é Bia Lopes, a Sandy principal desta montagem. Sendo dois papeis tão distintos, era necessário duas atuações bem divergentes porém benfeitas - e, sem dúvida, Lopes consegue tal proeza com folga. Sua Frenchie é tão espevitada quanto a de Tatiana Moniz, e seus solos são incríveis e afinados. Bia Lopes é uma presença marcante em cena, e transita com leveza entre a dramaticidade cênica e as canções.


Além de Moniz e Lopes, destaco também, nesta primeira apresentação: Danny (Juan Willians), Kenickie (Igor Forgeron), Eugene (Daniel Maragno), Patty Simcox (Karina Cardoso, já que, infelizmente, Julia Xavier - escalada anteriormente para o papel - não pôde estar presente nesta temporada), Felipe Marcelino (Roger, um dos T-Birds), e Newton Neto (Doody, também dos T-Birds). Todos aqui destacados cantaram muito bem e/ou dançaram muito bem na primeira sessão. Forgeron, que também colaborou com as adaptações das letras junto de Rafael Oliveira, foi excelente em sua performance de "Greased Lightning", e Newton Neto arrasou em sua performance de "Those Magic Changes".


Entretanto, alguns problemas também acometeram esta apresentação. Além dos já tradicionais entraves com os microfones (afinal, como disse César Ribeiro ao Música Na Vida na reportagem especial sobre os ensaios, são cerca de vinte microfones em cena, e coordenar tudo isso demanda remelexo), alguns atores ficaram aquém do esperado em cena: Victoria Suzart (stand-in da Rizzo) mostrou uma Rizzo muito neutra e evasiva, deixando uma lacuna quanto à acidez do humor da personagem - mas relevo aqui que Suzart foi excelente em suas partes cantadas, com uma voz limpa e sem firulas; e Nayara de Souza (Jen) foi muito bem em quase toda a peça, mas sua participação no dueto com Felipe Marcelino (Roger) em "Mooning" foi quase nula devido aos problemas com o microfone - este, distante demais da boca da atriz, minando sua parte na canção. Por fim, outro problema relevante foi quanto às trocas de cenários - muitas vezes, parte do cenário ficava para fora da cortina de blecaute, tendo os atores que puxarem-no para dentro, o que provoca uma sensação de amadorismo que destoa de toda a produção apresentada. No mais, a apresentação transcorreu dentro da normalidade, e mostrou ao público o real sentido do conceito "Grease".


"Grease" é o que vão escutar

Na segunda apresentação do dia, o espetáculo só melhorou: apesar de cansados, os atores não se deixaram abater e entregaram um show ainda melhor do que o anterior. As principais mudanças de atores ficou por conta de: Tatiana Moniz como Frenchie; Bia Lopes como Sandy; Rayssa Ruas como Rizzo; e Larah Bernardes como Jen. A apresentação começou por volta de 21h20, e é impossível não se emocionar com a bela abertura ao som de "Grease", originalmente de Frankie Valli. O espetáculo foi brilhante e correspondeu, indubitavelmente, às minhas expectativas.


Os grandes destaques desta segunda apresentação foram: Amanda Mendonça (Marty), que cantou lindamente "Freddy My Love"; Bia Lopes (Sandy), que trouxe uma Sandy meiga e pura; Juan Willians (Danny), que segurou a onda e deu conta de duas sessões seguidas sem ficar rouco ou tirar um fio de cabelo de seu topete do lugar; Rayssa Ruas (Rizzo), que encarnou a personagem desbocada e vanguardista com classe e defendeu bem a letra de "There Are Worse Things I Could Do"; e Vitor Moresco (Anjo), que levou a plateia à loucura com sua voz escrachada porém afinada, e com seu indefectível chapéu de flamingo cor-de-rosa, em "Beauty School Dropout". Todos dançaram muito bem - um dos grandes destaques da dança foi, sem dúvida, Bia Lopes - e atuaram muito bem - mesmo seguindo o roteiro, inseriram improvisos bem pontuais e que humanizaram seus personagens.


Quanto aos problemas, são poucas as críticas. Durante toda a peça, a respiração ofegante dos atores fora de cena atrapalhava inúmeras vezes o andamento da cena e a compreensão dos diálogos quando não havia música de fundo - esta, salvadora de alguns momentos ao abafar a respiração fora de hora. Além disso, um grave efeito de microfonia durante a execução de "You're The One That I Want" dificultou a concentração na cena e tornou tarefa hercúlea compreender a letra da música. Por fim, os improvisos, tão benquistos por este que vos escreve, atrapalharam um pouco algumas cenas, que se alongaram demais e deixaram músicos em estado de tensão e alerta, por conta das deixas para dar início às canções. Afora estes problemas, esta segunda apresentação foi, sem dúvida, a melhor do dia.


"Grease" é o que estamos sentindo

De forma geral, as apresentações de "Grease - Nos Tempos da Brilhantina" foram excelentes, e seguiram quase à risca o que fora anteriormente apresentado no ensaio aberto ao público, que o Música Na Vida pôde prestigiar. Todos os atores estavam em sintonia durante as duas sessões e, tirando um outro problema, mostraram a que vieram - e arrasaram! A equipe técnica também está de parabéns - a iluminação da boca de cena estava linda; os cenários, apesar de simples, estavam muito benfeitos e ajudaram a compor a cena de maneira harmônica e crível; os figurinos, assinados por Luana Mazarak, estavam bem fiéis à proposta anos 1950 e 1960 do enredo; a banda, orquestrada por Rodrigo Karashima (guitarrista da banda Let It Beatles), estava esplêndida e entrosada; e parabenizo também o trabalho de coaching musical realizado por César Ribeiro e Thales Cardoso, posto que os atores estavam cantando com eloquência e raça.


Já tendo assistido a duas sessões seguidas da peça, nem preciso dizer que "Grease" é, sem dúvida, um espetáculo para se ver e se rever inúmeras vezes, tamanha a sinergia contagiante que sua história e suas músicas passam para o público. "Grease" é a luz, o caminho - é o que estamos sentindo!

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