sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Peça musical “Mamma Mia!”, em Londres, Inglaterra – Apresentação de 18/12/2015

Eu não poderia ir embora de Londres sem assistir a mais um musical no West End – apesar dos preços salgados dos ingressos, eu já vi quase tudo que um turista deveria ver aqui e, como um amante incondicional dos musicais, era quase obrigatório que eu não me restringisse a apenas uma peça. Pois bem, dito isso, estava em dúvida entre dois clássicos dos musicais londrinos – “Wicked”, baseado no primeiro volume do livro homônio de Gregory Maguire, que conta a história de Elphaba, a Bruxa Má do Oeste d’”O Mágico de Oz”, antes da chegada de Dorothy; e “Mamma Mia!”, que conta a história de Donna Sheridan e os três possíveis pais de sua filha, Sophie, através das letras mágicas das canções do grupo sueco ABBA. Pelo título, é claro, optei pela peça com as músicas do grupo pop dos anos 1970 – gosto de ambas as peças, mas sou fã de “Mamma Mia!” há mais tempo do que de “Wicked”, e também quero assistir a história de Elphaba e Glinda na Broadway, em Nova York, porque não sou bobo nem nada...


Como estou hospedado perto de Stratford, na região leste de Londres, o transporte para chegar até o teatro (Novello Theatre, na região de Covent Garden, centro de Londres e região de Westminster) é um pouco demorado – por conseguinte, saí do apartamento que estou hospedado (via Airbnb) às 17h50, e a peça estava prevista para às 19h30. Cheguei ao teatro com vinte minutos de folga, e aproveitei para comprar o costumeiro programa da peça (vendido no teatro por 4 libras esterlinas). Para assistir “Mamma Mia!”, decidi mudar o local do meu ingresso e me sentei na plateia baixa, mais próxima do palco – foi uma escolha acertada por conta da visão do palco, mas totalmente errônea se considerarmos o público barulhento que me cercava antes do início do espetáculo.

Cartaz de divulgação do musical. Créditos: The Producers' Perspective/ Divulgação

Com quinze minutos de atraso – o que é ultrajante para uma peça do West End londrino, mundialmente conhecido por sua pontualidade britânica – “Mamma Mia!” começou com sua clássica ouverture instrumental, magistralmente executada pela banda ao vivo ali presente, dirigida por Marcus J. Savage. Outra coisa bem irritante durante a execução do espetáculo foram os atrasados, que chegavam aos monte com a peça já em andamento e atrapalhavam tanto quem assistia quanto quem estava em cima do palco. Nada comparado ao ambiente classudo que eu estivera dias antes, quando fui prestigiar “Cats”...


Voltando ao musical: a história, como muitos devem conhecer, seja pelo próprio musical (em cartaz desde 1999 mundo afora), seja pelo filme de 2008 (estrelado por Meryl Streep, Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Julie Walters, entre outros astros de Hollywood), conta a história de Sophie, menina criada pela mãe solteira, Donna, que descobre um diário antigo de sua mãe e convida seus três possíveis pais para seu casamento com Sky, um jovem grego que mora na ilha onde Donna é proprietária de um hotel. Os possíveis progenitores de Sophie são: Sam, um bem-sucedido empresário, que sempre fora apaixonado por Donna; Bill, um aventureiro que gosta de viver grandes aventuras, sem amarras e sem criar vínculos; e Harry, que fora do movimento hair metal na época que conhecera Donna, mas que agora vivia com seus cachorros e seu companheiro Lawrence. Quando os três aportam na ilha, Sophie, que achava que reconheceria seu pai logo que o visse, se desespera e faz de tudo para esconder o que fez de sua mãe. Claro que Donna acaba descobrindo que seus amantes de passado estão de volta e, com ajuda de suas Dynamos, Rosie e Tanya, vai se meter em muitas confusões para evitar que a verdade sobre Sophie seja revelada. Para contar essa história, que versa principalmente sobre o amor, os personagens cantam belíssimas versões de clássicos do repertório do ABBA – este, um grupo sueco formado em 1972 e que contava com os casais Björn Ulvaeus e Agnetha Fälkstog, e Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad, e que se tornou um fenômeno do pop mundial, vendendo mais de 300 milhões de álbuns e singles ao longo de dez anos de carreira.

Pôster de divulgação do filme de 2008. Créditos: Abbey Orlando/ Divulgação

No papel de Sophie, estava a atriz Gabriella Williams – não conhecia ninguém do elenco, mas posso afirmar com certeza que Williams interpretou uma Sophie bem menos estridente e canastrona que Amanda Seyfried no filme homônimo. Já não se pode, entretanto, afirmar o mesmo de Shona White, a atriz que deu vida à Donna – além de ela não ser a atriz principal da montagem, sendo esta Dianne Pilkington, White não estava bem entrosada com a banda e sua voz, vez por outra, sumia no meio dos instrumentos... Sua melhor performance, durante todo o espetáculo, foi na ária “The Winner Takes It All” que, de fato, demanda uma boa potência vocal, mas ficou parecendo que ela não se esforçou durante todo o restante do espetáculo apenas para arrebatar o público em seu solo – atitude esta não muito justa com o público, que esperava uma Donna bem espevitada e cantando com entusiasmo. Dos outros papeis, destaco: Jo Napthine, intérprete e Rosie, que deu uma alegria invejável à personagem hilária, que foi companheira de Donna no power trio Donna and the Dynamos, quando eram jovens; Mazz Murray, intérprete de Tanya, a terceira Dynamo, que arrancou aplausos entusiasmados da plateia em seu solo “Does Your Mother Know?”; Richard Trinder, intérprete de Sam Carmichael, que demonstrou muito talento tanto dramático quanto vocal, e entregou um personagem esférico e esmerado; e, por fim, Alasdair Harvey, intérprete de Harry Bright, que brilhou em suas performances de “Thank You For The Music” e “Our Last Summer”, e se mostrou um ator versátil e hilário.


Fiquei bem satisfeito com “Mamma Mia!” – era exatamente como eu imaginava, a euforia despertada pelas canções do ABBA é genuína, os atores entregam uma performance zelosa, e o ensemble estava perfeitamente ensaiado tanto vocalmente quanto coreograficamente. As únicas decepções foram: 1) o público estar tão disperso e barulhento, até mesmo durante o espetáculo – é desrespeitoso com quem está assistindo quanto com quem está atuando/cantando/dançando/dando a alma em cima do palco; e 2) eu esperava mais da personagem Donna, posto que Meryl Streep entrega uma performance inquestionavelmente completa, e Kiara Sasso, na versão brasileira que ficou em cartaz entre 2010 e 2011 no Teatro Abril (São Paulo/SP), fez um trabalho primoroso e de qualidade, posto que já esteve presente em diversas produções musicais e sua voz é considerada uma das mais belas do circuito nacional de teatro musical. Tirando isso, “Mamma Mia!” é um espetáculo para os olhos e para ouvidos, e indubitavelmente deve ser assistido e reassistido quantas vezes foram necessárias para você decorar todas as músicas do ABBA presentes na peça.

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