Logomarca do musical "Cats". Créditos: Ginger Hibiscus/ The Really Useful Theatres
“Cats”... A primeira vez que tive contato com esta obra-prima foi, novamente, por meio de minha mãe – creio que, em 2004, ela comprou um disco com os highlights da peça, durante uma queima de estoque de alguma loja de departamentos. Ela já adorava a peça – prestigiara-a em Nova York, durante uma viagem com meu pai, talvez uns quatro anos antes – e, ao escutar o disco junto dela várias vezes, acabei me rendendo à Grizabella e os outros gatos Jellicle. Ao longo do tempo, é claro, compreendi melhor a profundidade das letras de T.S. Eliott, da beleza indelével dos arranjos de Andrew Lloyd Webber, e do talento vocal inegável de Elaine Paige (a Grizabella no elenco original da peça, e que cantava a ária “Memory” no disco que escutava com minha mãe), e “Cats” se tornou um dos meus musicais preferidos da vida – e, logo, uma das peças que eu mais desejava assistir ao vivo e a cores.
Beverley Knight como Grizabella. Créditos: West End Frame
Agora, em 2015, enquanto estou tirando umas férias do meu curso de francês em Montpellier, na França, decidi assistir “Cats” e realizar de vez esse sonho antigo. Na minha primeira vez nesta cidade, em 2011, assisti “The Phantom of the Opera” (que era, sem dúvida, o musical que ocupa a primeira posição da minha lista de desejos), então agora era a vez dos Jellicle Cats. Sentei-me na penúltima fileira do balcão mais baixo do teatro The London Palladium, onde “Cats” fixa residência até 2 de janeiro de 2016 e, ainda que não estivesse tão perto, tive uma vista bem privilegiada e completa do palco. Assim, pude compreender a magnitude deste musical e, tão logo as luzes se apagaram e a música começou, eu já estava completamente entregue àquela estória e àquelas canções.
Cenário da presente montagem de "Cats" no The London Palladium. Créditos: Cats - The Musical - Official Site
Sobre essa nova montagem do musical: depois de estrear no West End em 1981 e fechar em 2002, depois de 21 anos ininterruptos em cartaz, “Cats” foi remontado na sua cidade natal em 2014, com poucas mudanças do original porém com um maior uso de tecnologia para render emocionalmente o público. Estrelando a atriz e cantora Beverley Knight no papel da decadente gata Grizabella, a nova montagem de “Cats” é um deleite visual, além de contar com um corpo de baile impecável – o que é extremamente necessário, posto que a peça é fortemente ligada com a dança e demanda bailarinos de alto nível profissional para ser encenada com garbo e elegância. Sem dúvida, Knight tem uma voz avassaladora e potente, e sua performance de “Memory”, tanto na primeira quanto na segunda aparição da canção, é, sucintamente, perfeita.
Nem preciso dizer que chorei muito e me diverti muito em “Cats”... Chorei com “Memory”, cantarolei “Jellicle Songs for Jellicle Cats”, gargalhei em “Mungojerrie and Rumpelteazer”, cantei a plenos pulmões “Mr. Mistoffelees”, me emocionei novamente com “Gus, The Theatre Cat”, deixei-me seduzir por “Macavity”, entre outras canções icônicas do musical. Quem já teve contato com “Old Possum’s Book of Practical Cats”, do poeta inglês T.S. Eliott, sabe que o musical é a mais bela e fiel adaptação das eloquentes estrofes do autor, e que, mesmo só lendo os poemas, existe uma musicalidade que emana deles, antes mesmo de qualquer contato com as músicas de “Cats”.
Na apresentação que prestigiei, destaco alguns atores: Beverley Knight – sua Grizabella é impecável, e sua voz, poderosa e emocionante; Harry Francis – no papel de Mungojerrie, ele arranca muitas risadas mas, também, muitos aplausos por conta de sua performance vocal; Tarryn Gee – interpretando Jemima, a delicada gata que oferece ajuda à Grizabella, Gee faz um trabalho primoroso, e encanta nossos ouvidos com sua voz cristalina; Paul F. Monaghan – por seu hilário Bustopher Jones, e por seu sensível e emocionante Aspargus (Gus); e, por fim, Mark John Richardson – que nos encanta com seu destemido Quaxo, e com seu gracioso Mr. Mistoffelees, sempre com uma performance teatral completa, seja cantando, seja dançando, seja fazendo truques de mágica, seja defendendo o bom Old Deuteronomy. Em contrapartida, não gostei muito das mudanças no personagem The Rum Tum Tugger – de rockstar setentista, o eloquente gato virou um rapper cheio de correntes de prata e emulando passos de break dance – e, por conseguinte, não simpatizei com o ator que o interpreta, Marcquelle Ward – o que é uma pena, porque The Rum Tum Tugger é um dos meus personagens preferidos, e tinha tudo para ser destaque positivo neste texto...
De forma geral, a apresentação de “Cats” foi tudo o que eu esperava – me emocionei, cantei junto, me diverti, e me entreguei ao espetáculo. Porém, mais do que isso, assistir esta peça foi também mais uma prova que tive que devo, de fato, seguir nessa área artística – seja produzindo e dirigindo peças de teatro, seja dirigindo e roteirizando filmes, seja estando em cima de um palco, seja estando na frente das câmeras, é disso que eu gosto e me arrependo de ter demorando tanto tempo para admitir isso para mim mesmo. “Cats” faz parte da minha história há mais de dez anos e, sem dúvida, essa apresentação fará parte da minha bagagem cultural. Caso você esteja em Londres até a data de fechamento da residência do musical no The London Palladium, eu não recomendo que você assista – eu exijo que você assista!
Nenhum comentário:
Postar um comentário