quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Peça teatral "O Silêncio do Mundo" - Apresentação de 25/02/2016

"É doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar"... É com esse trecho do clássico de Dorival Caymmi que eu começo a contar da minha experiência com a peça "O Silêncio do Mundo", projeto idealizado e encenado por Juana Miranda, com texto de Renata Mizrahi e direção de Iberê Carvalho e Larissa Mauro, que prestigiei junto da minha irmã, Eduarda Mancin. O mote do roteiro é mostrar o processo de autodescobrimento da personagem, que era uma executiva e decide largar tudo para velejar pelo mundo sozinha.

Créditos: Diego Bresani

Ela não tem nome, mas tem uma personalidade forte - seu pai, também velejador, partiu quando ela era ainda criança e nunca mais retornou, o que levou sua filha a estar sempre com medo da solidão. No decorrer de seus dias em alto-mar, ela aprende os traquejos do mar, mas também comete vários erros clássicos de uma legítima marinheira de primeira viagem. Quando se vê no meio de uma violenta tempestade, sem conseguir contato via rádio com nenhum outro navio próximo, ela cai doente e começa a delirar.

Créditos: Diego Bresani

De forma geral, essa é a história da peça, mas a mensagem que ela transmite é muito mais profunda: "O Silêncio do Mundo" leva o espectador à reflexão, não apenas sobre a solidão e a necessidade primordial do ser humano de estar em contato com seus iguais, mas também sobre o autoisolamento que praticamos diariamente quando estamos em nossos smartphones e usando nossos fones de ouvido. Não estamos sós, mas nos comportamos como se estivéssemos, posto que estamos deixando de lado o contato humano, o contato pessoal, para posar de popular nas redes sociais e ostentar milhares de "amigos" virtuais - muitas vezes, são pessoas que nem conhecemos pessoalmente, ou que nem temos tanta amizade assim.

Créditos: Diego Bresani

A história de "O Silêncio do Mundo" não é necessariamente biográfica, mas a autora do texto realizou diversas entrevistas com personagens importantes para a atividade náutica brasileira e criou, assim, uma personagem com diversas camadas e que representa todo um conceito da trajetória evolutiva da heroína. Entretanto, a presença de elaboradas coreografias de dança contemporânea não foram um grande atrativo da peça - ela mais atrapalhava a compreensão dos subtextos do que ajudava. Caso não houvesse esses números de dança, o espetáculo solo de Juana Miranda teria sido melhor trabalhado enquanto texto teatral.

Créditos: GPS Brasília

Miranda, aliás, se revela uma excelente bailarina, mas a entonação de voz usada para sua personagem a torna um tanto falastrona - ainda que seja possível crer na existência real desta, a voz ofegante e ansiosa destoa da construção de psique da personagem. No entanto, a atriz compensa isso com uma atuação impecável e com um texto que favorece a torrente de emoções que ela desperta nos espectadores.

Créditos: Diego Bresani

Além da performance da atriz neste monólogo, destacam-se ainda a iluminação - um trabalho irretocável de Marcelo Santana - e o trabalho de sonoplastia - resultado do trabalho conjunto de Sasha Kratzer e Rafael Maklon. Ambas as categorias técnicas têm em comum um resultado invejável e de qualidade superior à grande maioria das peças em cartaz pelo país. De fato, são pontos marcantes para o sucesso do texto, acrescidos daqueles já citados anteriormente. Também destaco o primoroso trabalho de fotografia de Diego Bresani, realizado para a divulgação do espetáculo - as fotos foram realizadas em um tanque d'água e ficaram incríveis!



Em suma, "O Silêncio do Mundo" é uma peça bonita sobre a confusão mental de todo ser humano diante de adversidades que ele julga superiores à sua capacidade de resolução, mas não é uma peça para pessoas de paladar monolítico. Sim, é preciso reflexão e atenção às entrelinhas para compreender a mensagem final da peça. Entretanto, as coreografias, apesar de muito bonitas e executadas com afinco por Juana Miranda, são apenas um elemento decorativo para o texto, e não faz a menor diferença para contar a história.

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