Créditos: Mídia Cult
"Beatles Num Céu de Diamantes" foi um projeto iniciado pela dupla Möeller & Botelho em 2008, para cumprir tabela na programação do SESC Copacabana por um mês - atualmente o espetáculo se encontra na sua 13ª temporada, e contando com atores de diferentes temporadas anteriores. Um tanto complexo, no entanto, é classificar tal espetáculo... Apesar de, teoricamente, conter uma narrativa que se dá por meio das músicas de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, não há uma história para ser considerado uma peça de teatro musical; tampouco pode ser considerado um show de uma banda cover dos Beatles, pois não é essa a intenção nem da banda (formada por Lui Coimbra, Naife Simões e Pedro Sol Blanco), nem dos atores-cantores (que são bem performáticos em cena). Não conseguindo encontrar um rótulo decente, coloco o espetáculo na mesma categoria dos shows do Cirque de Soleil - um show audiovisual com uma proposta inclassificável.
Os cantores eram, em sua maioria, excepcionais, proporcionando performances de tirar o fôlego. Os números apresentados em conjunto são lindos e a homogeneidade vocal do grupo é admirável e, certamente, fruto de longos e exaustivos ensaios - foram impecáveis neste aspecto. Em contrapartida, nos números solos, enquanto uns esbanjavam talentos, outros não estavam em seus melhores dias...
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Vamos dar preferência às mulheres: Cássia Raquel (conhecida do grande público por sua expressiva participação no reality show musical "Ídolos", na Rede Record) é a melhor coisa do espetáculo como um todo, com uma voz poderosa, afinação irretocável, e uma simpatia transbordante; Estrela Blanco (irmã da popstar brasileira Lua Blanco,e também irmã de Pedro Sol Blanco, que toca violão e ukulele no espetáculo) tem potencial para ser uma excelente cantora de musicais, mas ainda precisa trabalhar mais sua extensão vocal - em algumas músicas, ela poderia ter explorado melhor seus agudos, mas não o fez, prejudicando a emoção demandada pela letra e pela harmonia; Gabi Porto (mais conhecida do público infantil como a dubladora da princesa Anna, do filme Disney "Frozen - Uma Aventura Congelante") estava divina em cena, com um visual arrojado (seu cabelo pixie ficou muito bonito e lhe deu um toque mais rebelde), e cantando com uma afinação sensacional, além de conseguir transpor sua teatralidade para as músicas por ela entoadas; e Marya Bravo (famosa atriz de musicais aqui no país, filha do músico Zé Rodrix) foi uma das mais interessantes figuras do espetáculo - seu timbre profundo e suas notas agudas, absurdamente bem colocadas, fazem dela a cantora com mais técnica em cena.
Agora os rapazes: Felipe Tavolaro (ator de musicais, já participou de "A Noviça Rebelde" e "Shrek - O Musical") é charmoso e talentoso - sua voz é límpida e ele consegue atingir a maioria das notas - porém não traz à tona seu modus operandi cênico, deixando a desejar na parte de ator; Jules Vandystadt (parceiro de longa data da dupla Möeller & Botelho, é ator e diretor musical) não estava num bom momento - sua atuação foi apática, e suas performances musicais, aquém do esperado para alguém do seu naipe e currículo; Rodrigo Cirne (outro colaborador frequente da dupla de diretores à frente do espetáculo, tendo trabalho com eles em "7 - O Musical" e "Um Violinista no Telhado"), sem dúvida, é o grande destaque vocal dos homens do elenco - sua voz é bem teatral, pronta para despontar em algum musical da Broadway, e creio que isso se deva à sua ampla experiência em musicais; e Pedro Sol Blanco (irmão das já citadas Lua e Estrela Blanco), além de tocar junto da banda, canta em diversos momentos, e se mostra um vocalista melhor preparado que sua irmã também presente no espetáculo - além de ser simpático e involuntariamente engraçado em cena.
Quanto à banda: Lui Coimbra, responsável pelo violoncelo e pelo violão, é um exímio instrumentista e também não faz feio nas músicas que canta e toca violoncelo - talvez teria sido melhor se ele tivesse apenas cantando, para concentrar sua energia apenas na voz; Naife Simões, na percussão, é uma figura exótica, porém um músico talentoso, dando uma energia surpreendente às músicas do quarteto de Liverpool - além de fazer um ótimo beatbox; e Tony Lucchesi, no piano, é tímido e se esconde atrás de sua parafernália, mas é um excelente músico.
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De maneira geral, "Beatles Num Céu de Diamantes" é uma produção bem pensada e cumpre sua função de entretenimento mas, ao considerar a marca Möeller & Botelho, responsável por musicais que revolucionaram o teatro brasileiro e trouxe novamente o público para lotar auditórios, confesso que foi um tanto frustrante a estrutura simplista do espetáculo, além da falta quase total de interação cênica - ou seja, sim, eu esperava bem mais dessa produção do que ela entregou de fato. Talvez o fato de eu ter prestigiado a excelente adaptação teatral do filme "Across The Universe" (2007), que conta realmente uma história por meio das canções emblemática dos Beatles, conte pontos para o meu descontentamento para com a produção carioca. No entanto, não é um espetáculo descartável: pelo contrário, é uma ótima opção para quem é fã dos Beatles e deseja bons cantores interpretando os clássicos do quarteto sem descaracterizá-los.
OBSERVAÇÃO: Este vídeo é antigo, então não são estes os atores atuais - no espetáculo de hoje, os intérpretes deste mashup foram Cássia Raquel e Rodrigo Cirne.
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