domingo, 3 de abril de 2016

Show "Dancê - Nude", da Tulipa Ruiz - Apresentação de 03/04/2016

Para quem acompanha o blog Música Na Vida há algum tempo, o fato de eu ter tido prestigiar um show da Tulipa Ruiz, talentosa cantora da nova geração da MPB, não é surpresa alguma - afinal, lancei em 2014, por meio do próprio blog, meu segundo curta-metragem, de nome "Projeto Víbora", que é um videoclipe da música "Víbora", última faixa do segundo disco da carreira de Tulipa, "Tudo Tanto" (2012), e fiz em 2012 o Especial Tulipa Ruiz no Música Na Vida, no qual explicava com riqueza de detalhes a carreira dessa paulista crescida no interior mineiro, além de falar das minhas faixas favoritas de seus discos até então lançados (em 2015 Tulipa lançou "Dancê", seu terceiro trabalho, pelo qual ganhou recentemente um aclamado Grammy Latino). Assim que eu soube que Tulipa faria uma curta temporada de três dias no Teatro da Caixa Cultural, com ingressos a R$10 a meia, fui correndo garantir o meu lugar.

Créditos: Caio César Mancin

Cheguei para o show com vinte minutos de antecedência e, tão logo me sentei (na primeira fileira, o que me deu o privilégio de ficar cara a cara com Tulipa) fiquei extremamente incomodado com uma situação: um casal, que comprara ingressos em outra fileira, veio ocupar o assente especial para obesos que ficava logo ao meu lado. Isso me faz pensar e refletir sobre a natureza humana de sempre querer se dar bem e de como a tradição brasileira do "jeitinho" é irritante... Sem querer ser o chato anti-indianista, mas já sendo, não vi em Marselha nem em Londres, onde estive recentemente e conferi espetáculos, pessoas do público ocupando lugares que não lhes pertenciam. Enfim, me incomodei com este e outros comportamentos do público, que gritavam "gostosa" e outros elogios à cantora completamente fora de hora, mas faz parte do show...

Créditos: Caio César Mancin

Com cerca de quinze minutos de atraso, o show começou e pudemos conferir este formato inédito de apresentação de Tulipa Ruiz, que estava no palco acompanhada apenas de seu irmão, Gustavo Ruiz, e de seu pai, Luiz Chagas (ex-Isca de Polícia, banda de Itamar Assumpção), nos violões, e ela, nos vocais. O trio começou o espetáculo com "Pedrinho", uma das canções mais interessantes de "Efêmera" (2010), disco de estreia de Ruiz, em um arranjo acústico bem apropriado e com os vocais de Tulipa límpidos e encantadores. Em seguida, foi a vez de "É", de seu segundo disco, cujo clipe foi gravado em Londres - o público cantava junto com emoção e fervor. A terceira canção foi "Brocal Dourado", confessadamente uma das minhas prediletas do primeiro disco, e pude constatar que também do restante da plateia, que cantou animadamente.

Créditos: Caio César Mancin

Após isso, Tulipa cantou "Proporcional", do disco "Dancê", e que tem uma letra linda sobre a desconstrução do preconceito e a importância da autoaceitação. Em seguida, veio "Like This", que, apesar do título, é cantada em português e teve um clipe emocionante protagonizado por Layla Ruiz (prima da cantora). Então, Tulipa fez um breve discurso sobre a importância de discutirmos a democracia atualmente, o que suscitou um onda de gritos favoráveis ao governo atual - faço aqui um adendo que, apesar de cursar Ciência Política e de ter minha opinião política bem clara, não vou defender lados aqui neste espaço, pois acho que música é um solo sagrado que não deveria ser tocado por algo tão imundo quanto a política, e prefiro não falar desse assunto no meu blog. Após o discurso, Tulipa trouxe para o público sua versão para "Da Maior Importância", clássico de 1975 de Caetano Veloso, que ela cantou lindamente.

Créditos: Caio César Mancin

A música seguinte foi "Físico", do seu mais recente álbum, e que evoca a disco music e o hit "Physical", da australiana Olivia Newton-John. Logo em seguida, Tulipa contou um pouco sobre os bastidores da produção de "Dancê", dos seus anseios quanto às apresentações desse formato diferente de show, que ela chama carinhosamente de "Nude", e contou sobre a composição da música que cantaria a seguir - "Reclame", que traz à tona os profissionais do obscurantismo e da clarividência. Após esta, veio "Às Vezes", do disco "Efêmera", e que ficou muito interessante nesta formatação acústica do show.

Créditos: Caio César Mancin

Em seguida, veio "Sushi", uma das mais lindas canções do primeiro disco da artista, e que rendeu um lírico videoclipe dirigido por Leandra Leal e protagonizado por Tainá Müller. Após "Sushi", a família Ruiz Chagas se despediu do público, mas voltou obviamente para o bis, que começou com Tulipa cantando seu maior hit, "Efêmera", que nomeia seu disco de estreia e que a alçou à fama depois de ter sido incluída na trilha sonora de um famoso videogame de futebol, em 2010. Para finalizar este lindo show, "Prumo", a canção que abre o novo disco de Ruiz, e que recentemente integrou a trilha sonora da novela das 23h, "Verdades Secretas". O trio, então, se despediu em definitivo da plateia, agradeceu a presença de todos, e saí dali feliz de poder prestigiar um show tão delicado porém tão completo. O único defeito do espetáculo é sua duração: menos de uma hora... Poderia ser bem maior, posto que o repertório de Tulipa já é bem vasto e permitiria um show de, pelo menos, uma hora e meia. No entanto, creio que o conceito deste formato seja exatamente condensar e minimizar o show, para dar atenção total e exclusiva às músicas nele contidas.

Créditos: Caio César Mancin

De forma geral, fiquei bem satisfeito com o show de Tulipa, e espero poder vê-la mais vezes no palco - sua energia e seu diálogo transparente com o público são bem interessantes, e distinguem-na da maior parte dos cantores da atualidade, que trabalha mais distante da plateia. O único problema que vi é o público que acompanha a artista, mas já venho discutindo isso há bastante tempo nas minhas resenhas críticas - não é algo surgido agora, nem mudará significativamente tão cedo... Uma pena.

Créditos: Caio César Mancin

Créditos: Caio César Mancin

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