sábado, 7 de maio de 2016

Peça teatral "Três Dias de Chuva" - Apresentação de 07/05/2016

A primeira vez que ouvi falar de "Três Dias de Chuva" foi em meados de 2013, quando Carolina Ferraz, protagonista da peça, foi entrevistada por Jô Soares, diretor e tradutor da produção, em seu programa da madrugada, "Programa do Jô" - e, desde então, me interessei muito pela história da peça. Sabendo que tinha dedo do Jô, eu tinha certeza, de antemão, que poderia esperar um texto brilhante e atores muito bem dirigidos. Agora, três anos depois, finalmente tive a oportunidade de poder assistir "Três Dias de Chuva", em turnê pelo Brasil, no Teatro Oi Brasília, localizado dentro do resort Royal Tulip Alvorada - e, sim, eu estava correto nas minhas expectativas.

Créditos: Revista Urbana Up/ Priscila Prade/ Divulgação

"Três Dias de Chuva" se passa em dois atos. No primeiro ato, os irmãos Anna e Walker Janeway se reencontram depois de um ano, durante o qual Walker sumiu logo após a morte de seu pai, Ned Janeway - um famoso arquiteto que construíra diversos prédios importantes mundo afora. Sempre perturbado pela figura enorme de seu pai, e pela ausência de sua mãe, que vive em uma clínica psiquiátrica, Walker está de volta a Nova York, e Anna, que mora em Boston, vem a seu encontro para, juntos, resolverem os trâmites da partilha de bens do pai. Junta-se a eles Pip, filho do falecido sócio de seu pai e amigo de infância dos irmãos, e que agora trabalha como ator de televisão. Pip é um típico bonitão galã superficial, e esconde um romance com Anna no passado por se preocupar com a desestabilidade emocional de Walker, seu melhor amigo. Walker, por sua vez, foi perdidamente apaixonado por Pip por anos, mas nunca foi correspondido - então passou a destratar o amigo, que, apesar de tudo, ainda se preocupa muito com ele. Anna sempre foi a certinha e, até a volta de Walker, seguia tranquilamente sua vida ao lado de seus filhos e de seu marido; contudo, uma série de confusões sentimentais acabam atrapalhando o curso normal dos planos dela. Walker está temporariamente instalado em um velho apartamento do subúrbio nova-iorquino, que pertencia a seu pai e a seu sócio, Theo. Lá ele encontra um velho diário de Ned, mas se frustra ao perceber que o diário é apenas uma série de frases curtas ligadas a datas específicas - por isso, acaba formulando mil e uma teorias para justificar sua frustração com a relação que manteve com seu pai.

Créditos: Curitiba Cult/ Priscila Prade/ Divulgação

Já no segundo ato, temos uma volta no tempo: de 1995, quando se passa o primeiro ato, para 1969, quando os pais de Anna e Walker começaram seu romance. Theo era namorado de Lina, mas a relação não ia bem - Theo era megalômano e machista, e Lina era uma mulher bem resolvida e passional. Ned, sócio de Theo, era um jovem arquiteto recém-formado, com grave problema de gagueira. A relação profissional entre Ned e Theo se estabeleceu ainda na faculdade mas, com seu ego desmedido, Theo inventa mil e um planos de construções sem deixar Ned intervir criativamente em nenhum momento. Os dois têm a difícil missão de realizar a sua primeira grande obra arquitetônica - a casa dos pais de Ned - mas Theo está com um bloqueio criativo e não consegue fazer o trabalho requisitado. Em uma ocasião, ele decide viajar para tentar vencer seu bloqueio, deixando Ned sozinho no apartamento. Ele encontra Lina por acaso no meio de uma tempestade, e os dois vão para o apartamento. Lá começam a desnudar seus sentimentos e se entregando à paixão que surgira da frustração de ambos com os prospectos de vida que projetaram para si mesmos.

Créditos: Gazeta do Povo/ Priscila Prade/ Divulgação

A direção de Jô Soares é bem delicada e, ao mesmo tempo, envolvente. Para quem já teve contato com sua obra, é possível perceber seu tipo de humor no texto, por meio de piadas involuntárias. Os atores em cena dão o toque final para a afinação do texto - Otávio Martins, que interpreta Walker e Ned, é um excelente ator e consegue, de maneira impressionante, personificar dois personagens tão distintos e, ao mesmo tempo, tão próximos um do outro; Carolina Ferraz, que interpreta Anna e Lina, é uma atriz do primeiro escalão da Rede Globo, e também uma excelente atriz de teatro, com uma performance impecável e com o texto não apenas decorado, mas canalizado emocionalmente; Fernando Pavão, que interpreta Pip e Theo, é hilário e sabe usar seu charme para dar crédito a personagens egocêntricos, sem deixar, contudo, de mostrar sua técnica cênica. O texto original é do norte-americano Richard Greenberg, pelo qual o autor ganhou o Prêmio Pulitzer, e já foi encenada por diversos atores famosos de Hollywood, como Bradley Cooper, Julia Roberts, Colin Firth, James McAvoy, entre outros.

Créditos: Telegraph

De forma geral, "Três Dias de Chuva" é uma peça fundamental para os amantes de dramas que fogem ao clichê do melodrama, e se destaca por fazer o público dar risada em momentos que, primordialmente, seriam dramáticos, o que acrescenta uma nova camada à cena. Assim, o texto se encaixa no perfil de tragicomédia, e são poucas as produções que alcançam sucesso neste gênero. Sem dúvida, não apenas o texto mas, também, a direção e o elenco são de suma importância para que a ação seja fluida e não penda demais para um ou outro gênero teatral. Além disso, destaco com força o trabalho gráfico do programa da peça, que conta com um belíssimo ensaio fotográfico de Priscila Prade.

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