domingo, 8 de maio de 2016

Peça teatral "Uma Relação Pornográfica" - Apresentação de 08/05/2016

Desde o início do ano estou imerso no estudo das artes cênicas, em seus termos mais técnicos e nas singularidades acadêmicas da movimentação em cena. Com isso, prestigiar uma peça como "Uma Relação Pornográfica" é, sem dúvida, um vasto material para continuar e aprofundar tais estudos. Com texto original de Phillipe Blasband, tradução de Liane Lazoski e Renato Beninatto, e direção de Victor Garcia Peralta, "Uma Relação Pornográfica" é um bela e singela narrativa sobre o encontro impessoal de duas pessoas unidas pelo tesão e pela vontade de fazer sexo, e sobre as transformações decorridas deste primeiro e dos demais encontros deles ao longo de um curto porém intenso período temporal. Em cena, apenas dois atores, duas cadeiras giratórias, um texto perspicaz e ligeiro, e um excelente trabalho de iluminação (obra de Maneco Quindaré). Não há nomes, não há grandes revelações de suas vidas fora dali, não há intimidade - é apenas sexo pelo sexo.

Créditos: Aqui Tem Diversão/ Divulgação

Ângela Vieira é uma renomada atriz de televisão, e já teve papéis de destaque em novelas como "Insensato Coração", "Senhora do Destino", e "Fina Estampa", sempre interpretando mulheres ricas, elegantes e, geralmente, esnobes. No entanto, em cima do palco, ela desconstrói essa imagem imaculada ao revelar uma personagem bem decidida, porém insegura e cheia de questionamentos não resolvidos. Além disso, ela discorre livremente sobre sexualidade e revela um texto cheio de camadas, fazendo dele mais relevante e mais erótico do que qualquer romance soft porn de sadomasoquismo.

Créditos: Montenegro & Raman

Guilherme Leme Garcia é velho conhecido dos olhares mais atentos à programação teledramatúrgica da Rede Globo, tendo como seu papel de maior destaque na emissora o empresário Gerald Lamas, da novela "Vamp" - o braço direito da cantora Natasha, interpretada por Claudia Ohana. Garcia também é conhecido no meio artístico por seus excelentes trabalhos no teatro, seja como ator (Chorus Line, O Estrangeiro, Rock in Rio - O Musical), seja como diretor (Os Adoráveis Sem-Vergonhas, Shirley Valentine, Trágica.3). Em cena, ele se revela um excelente ator dramático, porém com um timing certeiro para a comédia - muitos momentos engraçados da história são despertados por ele, fazendo da história erótica uma narrativa de altos e baixos, tanto por conta de angústias despertadas pela batalha entre superficialidade e profundidade que o relacionamento apresenta quanto pelos momentos de beleza singular proporcionados pelo preparo corporal dos atores e pela iluminação cênica.

Créditos: Montenegro & Raman

A história não é cativante - dois desconhecidos que se encontram em um site de relacionamentos, marcam um encontro, transam, e passam a se encontrar frequentemente no mesmo local, para o mesmo fim, sem nunca perguntar muito sobre a vida um do outro longe daquele reduto de sexo e fantasias por eles erguido - porém o trabalho de direção e de iluminação fazem valer a pena o espetáculo. Além disso, Ângela Vieira e Guilherme Leme Garcia são excelentes atores e proporcionam distintas camadas aos personagens inominados que representam em cena. A trilha sonora, assinada por Marcelo H., é de muito bom gosto e conta com boas canções para embalar os encontros sexuais dos dois. O texto é derivado do roteiro do filme homônimo ("Une Liaison Pornographique", 1999), estrelado por Nathalie Baye e Sergi López, atores europeus renomados e bem conhecidos da seara do cinema francês. De forma geral, é uma boa peça para refletir sobre as inseguranças que cada um tem com relação ao sexo livre e ao descompromisso com a taxativa moralidade cristã, porém não é um grande espetáculo de entretenimento - não espere ver cenas picantes em cena, ou se frustrará ao se deparar com personagens totalmente vestidos e se tratando com uma certa frieza e impessoalidade. No entanto, isso não tira a beleza da produção, que, reitero, tem como o trabalho de direção e de iluminação seus pontos mais fortes.

Créditos: Centro Cultural Banco do Brasil/ Divulgação

Créditos: Sens Critique

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