sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Peça "Os Realistas" - Apresentação de 03/11/2016

A vida real pode ser um tanto bizarra às vezes, mas as coisas ficam ainda mais estranhas quando a nossa cabeça, tão acostumada à realidade e ao realismo, perde a tênue linha que separa o real do ilusório e nos prende no vazio existencial da demência. Pode ser que tenhamos tais sintomas apenas na velhice, mas "Os Realistas" mostra as penúrias de se passar por essa situação em idade precoce - e, acredite, é mais assustador do que quando acomete uma pessoa idosa. Com um texto brilhante de Will Eno, "Os Realistas" foi traduzida para o português por Ursula e Erica de Almeida Rego Migon, e a adaptação, direção e trilha sonora coube a um dos protagonistas da peça, o ator Guilherme Weber. Em cena, além de Weber, temos os talentos de Débora Bloch, Mariana Lima e Fernando Eiras.

Créditos: Teatro UNIP

Com apenas quatro pessoas em cena, a peça se basta para contar a confusa, porém comum, vida de dois casais que se tornam vizinhos: José e Jennifer, um casal que mal se fala e mal se olha nos olhos depois de José ser acometido por uma rara doença degenerativa, e João e Pony, que acabaram de se mudar para uma casa alugada e têm uma vida bem mais animada do que seus vizinhos. No entanto, ao longo da história, percebe-se que João tem um motivo mais específico para ter se mudado para aquela região serrana e interiorana, do qual Pony não tem conhecimento algum - nem foco para conseguir perceber os sinais do marido.

Créditos: Miguel Arcanjo Prado

"Os Realistas", à primeira vista, pode parecer bem confusa - além do texto truncado de referências a serem esclarecidas só depois da metade da peça, algumas cenas ocorrem concomitantemente sem distinguir cenários - mas é um excelente exemplo de como uma peça pode falar de temas tão delicados, como a demência precoce, sem fazer um dramalhão no estilo das telenovelas mexicanas. Além disso, os atores em cena proporcionam uma experiência intrínseca - tendo sido preparados por Cristina Moura na questão de preparação corporal e de movimento, o grupo se mostra maleável em seus personagens e insanos conforme pede o roteiro.

Créditos: Acessibilidade, Saúde e Informação/ Divulgação

A direção de Guilherme Weber, no entanto, tem um único defeito: talvez no intuito de não querer se gabar de tantas atribulações, o diretor tira demais o ator de cena, e acaba por perder um pouco a referência de protagonismo - sim, ele é o protagonista, mas essa ausência em cena só nos faz perceber isso depois de algum tempo já decorrido do espetáculo. Em suma: "Os Realistas" é uma peça imperdível para quem curte um teatro mais "cabeça", mas recomendo assistir mais de uma vez para pegar todas as referências e pistas do texto - eu, se pudesse, veria novamente, certamente, mas a temporada no Teatro UNIP se encerra hoje.

Créditos: Teatro Em Cena

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