domingo, 9 de abril de 2017

Peça “Forever Young” – Apresentação de 09/04/2017

É muito difícil falar de terceira idade sem cair ora na pieguice da pena, ora no escracho do estereótipo. “Forever Young”, peça com texto original do suíço Erik Gedeon e dirigida, na versão brasileira por Jarbas Homem de Mello, mostra ambos os deslizes, mas de forma tão inteligente e carinhosa que deixamos passar em branco. O elenco é tão afiado e safo que, ao menor sinal de termos pena de algum personagem, logo entra em catarse e mostra que não, os idosos deste asilo não são figuras indefesas – são sobreviventes de um tempo que não volta mais.

Créditos: Divulgação/ Facebook - "Deca Produções"

O início da peça mostra Marya Bravo como a enfermeira que cuida do asilo e, um a um, entram em cena Miguel Briamonte (que passa a peça toda fazendo a trilha sonora ao piano), Paula Capovilla (interpretando uma velha roqueira que ainda não perdeu a pose nem a voz, cheia de drives de arrepiar a plateia), Carmo Dalla Vecchia (interpretando um senhor com algum problema pulmonar, em um trabalho cênico bem interessante – ainda que vacilante em alguns momentos – e surpreendendo com uma voz poderosa de cantor), Marcos Tumura (interpretando um velho hippie insatisfeito com os limites do asilo, e que incorpora o espírito emulado por Rita Lee no clássico “Orra Meu”), Claudio Galvan (interpretando um marido apaixonado e um ex-dançarino frustrado por quase nem mexer direito as pernas depois da velhice), e Vanessa Gerbelli (interpretando uma ex-atriz famosa de teatro, presa em um passado repetente por conta do Alzheimer). Com todos em cena, temos músicas originais da peça, cuja tradução e adaptação são de autoria de Henrique Benjamin, como também clássicos da música nacional e internacional, sempre em versões vozes e piano (a exceção é uma breve participação de Dalla Vecchia tocando guitarra elétrica, mais uma vez surpreendendo por conta de suas habilidades musicais). O problema é que, em alguns casos, a voz do cantor sai da voz do personagem e temos duas figuras distintas em cena em uma mesma pessoa – talvez pela falta de experiência anterior, creio eu, Dalla Vecchia é o que mais sofre com esta dualidade cênica.

Créditos: Divulgação/ Facebook - "Deca Produções"

Tumura e Capovilla, “macacos velhos” do teatro musical, dão um show em cena e raramente saem do tom – Tumura chega a cair do palco tomado pelo espirito de porco do seu personagem. Gerbelli, de volta aos musicais depois de muito tempo afastada, continua impecável e, aos que tiveram a oportunidade, relembra seu papel delicioso no musical “Cazas de Cazuza”. Galvan, mais conhecido por seu trabalho como dublador, arrasa em cena e deleita a plateia com sua voz tão familiar aos ouvidos de uns e outros. Bravo é uma figura impagável em cena, e cada aparição sua é um evento – sua voz é linda e límpida, mas sua personagem chega a ser extremamente irritante em diversos momentos.

Créditos: Divulgação/ Gazeta Online

Sem dúvida a velhice é uma época terrível para qualquer mortal, mas ela é inevitável e chega quando menos esperamos – mais do que isso, ela chega todo dia, cada dia mais, e sempre mais e mais visível a olhos nus. O roteiro de “Forever Young” é raso, mas a mensagem que vemos em cena é tão mais profunda que não tem resenha crítica que consiga desenvolver o suficiente o entendimento sobre as agruras e as delícias de se envelhecer. É uma peça para ser vista e revista, para entender melhor a mensagem de auto-aceitação cada vez mais e melhor.

Próximas paradas de "Forever Young" Brasil afora. Créditos: Divulgação/ Facebook - "Forever Young"

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