Crédito: Roberto Pontes/ Divulgação
A peça teatral que adapta a obra literária conta com a direção estupenda de Bia Lessa e, em cena, antes mesmo do terceiro soar do sino das igrejas que habitam o cenário imaginário da montagem, encontram-se os atores, que fazem exercícios e alongamentos para estarem tinindo e com movimentos rápidos e decididos quando encarnados em seus personagens. Em cima do palco, além da estrutura metálica que serve como cenário, estão cadeiras reservadas para um seleto público, pagante mais caro, que recebem fones de ouvido para apreciarem a obra teatral de forma imersiva – ali, além das vozes dos atores, escutam sons que remetem ao sertão e a trilha sonora majestosa de Egberto Gismonti. Da posição em que este que vos escreve se encontrava, só era possível reconhecer os atores e atrizes em cena apenas por suas vozes, dado o tamanho do Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães – o que leva à reflexão se não havia condições de o espetáculo ser apresentado em uma casa menor e com maior interatividade com o público, tal qual a Sala Plínio Marcos da Fundação Nacional de Arte (Funarte).
Crédito: Roberto Pontes/ Divulgação
Em cena, os talentos de Caio Blat, Luiza Lemmertz, Luísa Arraes, José Maria Rodrigues, Leonardo Miggiorin, Balbino de Paula, Daniel Passi, Elias de Castro, Lucas Oranmian e Clara Lessa. Destaco positivamente Blat, que entrega um Riobaldo vigoroso e com acertado sotaque baiano, e Lemmertz, que traz Diadorim como um personagem teso e irrepreensível em uma voz determinada tal qual a de sua mãe (a também atriz Júlia Lemmertz), além de Miggiorin, que traz sua desenvoltura cênica à baila em uma série de personagens sem nome que corroboram para as cenas em que Riobaldo conta seus causos. No entanto, o destaque negativo é Arraes que, apesar da forte cena de sexo com seu namorado na vida real (Caio Blat), entrega uma atuação fraca e quase amadora, exagerando nas entonações de cada personagem aos quais entrega seu corpo e jamais abandonando o sotaque carioca fortíssimo que carrega consigo fora de cena.
Crédito: Roberto Pontes/ Divulgação
Guimarães Rosa, ao conceber sua obra-prima, talvez não a imaginasse transposta assim para o palco, mas a visão multitarefas de Lessa traz para a história uma realidade ainda mais à flor da pele e, ao mesmo tempo, um surrealismo que faz de Riobaldo e sua trajetória representantes máximos da narração fantástica. Sem dúvida, um espetáculo para se rever, mesmo levando em conta suas três horas de duração.
Crédito: Lenise Pinheiro/ Folhapress
Excelente resenha... amei. Parece que interiorizamos à peça... Parabéns
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