Eram seis horas da manhã, e
Jocelyn estava sentada no Birdy`s Café. Bebericava seu latte fumegante enquanto lia o jornal do dia. O balcão empoeirado e
as cadeiras vazias davam uma vaga ideia de a quantas andava o café. Os únicos
sons que se escutava eram um casal de uns 40 anos conversando futilidades
quotidianas, e uma senhora bêbada, beirando os sessenta, que falava de um homem
que a deixara esperando a noite inteira e nem dera qualquer desculpa.
Jocelyn pegou o açucareiro para
adoçar um pouco mais seu latte, mas o
pote estava vazio. Ela, então, chamou o garçom:
- Jack, acabou o açúcar...
- Já ponho mais, Joss! – disse
Jack, pegando alegremente o pote da mão direita de Joss.
Ela continuou lendo o jornal, mas
repousou o copo no balcão. Se alguém olhasse a cena contra a luz, que adentrava
o local por uma fresta da persiana da janela, daria para ver as partículas de
poeira subindo e formando um microcosmos em suspensão. Jack devolveu o
açucareiro cheio com um sorriso para Joss, que tentou retribuir o sorriso, mas
só conseguiu levantar uma covinha no lado esquerdo da boca. Tinha que estar no
trabalho em uma hora, e ainda teria que pegar o metrô lotado na estação ao lado
do Birdy’s Café.
O metrô, por volta das seis da
manhã, era insuportavelmente lotado e incrivelmente silencioso. Era possível
sentir o silêncio irrompendo nos poros e mucosas do corpo. Prestando-se
atenção, podia-se até escutar o batimento cardíaco dos transeuntes, apesar do
barulho do trem em alta velocidade pelos trilhos.
Joss respirou profundamente,
fechou o jornal e tomou mais um gole de seu latte
– agora estava mais doce e mais frio, o que permitia tomar goles mais longos, e
sem fazer caretas. Terminado seu copo, jogou-o no lixo, junto do jornal, deixou
cinco dólares no balcão e fez sinal para que Jack ficasse com o troco. O garçom
lhe sorriu, agradeceu curvando a cabeça, e voltou a seus afazeres. Joss pegou
sua bolsa preta, pôs no ombro direito e saiu do café fechando a porta
distraidamente.
Virou à esquerda, desceu as
escadas rolantes da estação de metrô, passou seu cartão na roleta e foi
seguindo o fluxo de pessoas que também almejavam entrar nos vagões do trem. Um
vento encanado que zanzava pela galeria esfriava todo o corpo de Joss, outrora
aquecido pelo latte do Birdy’s.
Pessoas isoladas da realidade em
seus headphones e em seus tablets e smartphones.
Cada um vivendo seu mundo, sem querer viver o mundo de todos, de fato. Quem não
tinha brinquedinhos para se distrair, apenas olhava ansiosamente o túnel de
onde viria o metrô – Joss era uma dessas, já que seu salário como secretária da
editora-chefe da revista SoundBeats,
Minnie Chord, não lhe permitia adquirir um celular da moda – aliás, seu salário
mal dava pra pagar o quarto de dois cômodos que alugava em Richmond Hill.
Morar em New York era caro demais
para pessoas em empregos medíocres.
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