sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Birdy's Café


Eram seis horas da manhã, e Jocelyn estava sentada no Birdy`s Café. Bebericava seu latte fumegante enquanto lia o jornal do dia. O balcão empoeirado e as cadeiras vazias davam uma vaga ideia de a quantas andava o café. Os únicos sons que se escutava eram um casal de uns 40 anos conversando futilidades quotidianas, e uma senhora bêbada, beirando os sessenta, que falava de um homem que a deixara esperando a noite inteira e nem dera qualquer desculpa.
Jocelyn pegou o açucareiro para adoçar um pouco mais seu latte, mas o pote estava vazio. Ela, então, chamou o garçom:
- Jack, acabou o açúcar...
- Já ponho mais, Joss! – disse Jack, pegando alegremente o pote da mão direita de Joss.
Ela continuou lendo o jornal, mas repousou o copo no balcão. Se alguém olhasse a cena contra a luz, que adentrava o local por uma fresta da persiana da janela, daria para ver as partículas de poeira subindo e formando um microcosmos em suspensão. Jack devolveu o açucareiro cheio com um sorriso para Joss, que tentou retribuir o sorriso, mas só conseguiu levantar uma covinha no lado esquerdo da boca. Tinha que estar no trabalho em uma hora, e ainda teria que pegar o metrô lotado na estação ao lado do Birdy’s Café.
O metrô, por volta das seis da manhã, era insuportavelmente lotado e incrivelmente silencioso. Era possível sentir o silêncio irrompendo nos poros e mucosas do corpo. Prestando-se atenção, podia-se até escutar o batimento cardíaco dos transeuntes, apesar do barulho do trem em alta velocidade pelos trilhos.
Joss respirou profundamente, fechou o jornal e tomou mais um gole de seu latte – agora estava mais doce e mais frio, o que permitia tomar goles mais longos, e sem fazer caretas. Terminado seu copo, jogou-o no lixo, junto do jornal, deixou cinco dólares no balcão e fez sinal para que Jack ficasse com o troco. O garçom lhe sorriu, agradeceu curvando a cabeça, e voltou a seus afazeres. Joss pegou sua bolsa preta, pôs no ombro direito e saiu do café fechando a porta distraidamente.
Virou à esquerda, desceu as escadas rolantes da estação de metrô, passou seu cartão na roleta e foi seguindo o fluxo de pessoas que também almejavam entrar nos vagões do trem. Um vento encanado que zanzava pela galeria esfriava todo o corpo de Joss, outrora aquecido pelo latte do Birdy’s.
Pessoas isoladas da realidade em seus headphones e em seus tablets  e smartphones. Cada um vivendo seu mundo, sem querer viver o mundo de todos, de fato. Quem não tinha brinquedinhos para se distrair, apenas olhava ansiosamente o túnel de onde viria o metrô – Joss era uma dessas, já que seu salário como secretária da editora-chefe da revista SoundBeats, Minnie Chord, não lhe permitia adquirir um celular da moda – aliás, seu salário mal dava pra pagar o quarto de dois cômodos que alugava em Richmond Hill.
Morar em New York era caro demais para pessoas em empregos medíocres.

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