domingo, 27 de julho de 2014

Peça teatral "Camille e Rodin" - Apresentação de 27/07/2014

A trágica história de amor entre Camille Claudel e Auguste Rodin é uma das mais emblemáticas do mundo das artes, e continua a inspirar jovens casais a se declararem de forma verborrágica um para o outro, e a inspirar escritores que buscam um amor implacável e repleto de obstáculos que consegue se consumar de forma hiperbólica e poética. Assim, não é surpresa alguma que o jornalista e dramaturgo Franz Keppler tenha buscado na história destes para compor o texto brilhante da peça "Camille e Rodin", dirigida por Elias Andreato, e estrelada por Leopoldo Pacheco (no papel de Rodin) e Melissa Vettore (no papel de Claudel). Foi este espetáculo sensacional, já assistido por mais de 70 mil pessoas por todo o país desde que entrou em cartaz, no ano de 2012.


O cenário é bem detalhado, mas bem simples: quatro portas de vidro, uma cama de ferro, a mesa de trabalho de Rodin, a escada de Camille, e um espelho em frente a uma pequena plataforma redonda giratória. A ação dos personagens acontece ali, sem muitas barreiras entre os cenários distintos onde esta ocorre. No chão, muitos papéis contendo desenhos, gravuras, rascunhos e cartas. 


A história começa com Rodin se lembrando desesperadamente de Claudel, se perguntando onde teria ido seu grande amor, por ela andava. Em paralelo, Camille fala dos homens de botas e capacetes que irão buscá-la a qualquer momento, para levá-la às portas do Inferno. Então, a história volta no tempo, e mostra quando Camille e Auguste se encontram pela primeira vez - ela, aos 19 anos, já era uma artista incontestável e talentosa; ele, com mais de quarenta anos, já era um brilhante escultor, renomado e exigido pelos mais importantes marchands de Paris. Claudel começa no ateliê do artista como auxiliar, e seu principal serviço é esculpir pés e mãos das obras de Rodin - eram sua especialidade. Entretanto, Camille queria muito mais - depois de ser recusada na Academia de Belas-Artes pelo "simples" fato de ser mulher, ela queria mostrar ao mundo a dignidade de seu trabalho e a dor que passava para suas obras.


Os dois se tornam amantes, mas Rodin insiste em não largar da esposa, Rose Beuret (que não aparece na peça em nenhum momento, mas é motivo constante das brigas entre Camille e Rodin). Camille é uma mulher de temperamento forte e, como toda artista, têm os nervos à flor da pele. Ela expressa seus sentimentos em proporções exageradas, mas que denotam toda a dor que residia em sua alma. Com o passar do tempo, Rodin se muda para um novo ateliê, mais amplo e mais afastado do centro da cidade, mas continua a deixar Claudel sozinha por diversas noites, para se deitar ao lado de Rose.


Camille, então, começa a se mostrar uma pessoa desequilibrada, principalmente depois do aborto espontâneo que sofre (de uma gravidez da qual ela nada contara a Rodin), e se torna claro o diagnóstico de esquizofrenia e alcoolismo da artista. Em cartas que troca com Paul Claudel, seu irmão, ela desabafa sobre as sombras que perseguem sua mente e ameaçam sua sanidade tanto física quanto mental. Camille Claudel acaba sendo internada em um sanatório por quase trinta anos, e morre lá. Auguste Rodin, por sua vez, perdeu sua musa inspiradora, mas jamais deixou de admitir que Camille foi o grande amor de sua vida.


"Camille e Rodin" é um espetáculo fantástico e muito bem produzido, com um texto rico e contemporâneo à época retratada. Elias Andreato faz um brilhante trabalho de direção, ao pôr em cena apenas dois atores que encarnam diversas fases de pessoas bem distantes das suas realidades. Leopoldo Pacheco, caracterizado fielmente aos registros que se tem de Auguste Rodin, é um excelente ator, e encarna com vigor a fúria insensata vinda das experiência de vida do artista. Melissa Vettore, muito parecida fisicamente com Camille Claudel, nos passa a impressão de que nasceu para interpretar a escultora tamanha a leveza com que reproduz os movimentos exagerados de Camille. A peça é linda, com um cenário deslumbrante e que ajuda na movimentação dos atores fora da proposta de espaço físico, e com atores que fazem em cena uma performance fiel aos personagens originais e que demonstram estarem bem à vontade no espaço cênico.


Em suma, "Camille e Rodin" tem razão de ser um sucesso de público e de crítica, pois é impecavelmente bonito e emocionante. É difícil sair dali sem derramar uma única lágrima, mesmo que tímida, ao ver retratada de forma tão apaixonante os conflitos e os amores entre Auguste Rodin e Camille Claudel. Sem dúvida, um grande espetáculo para se rever e se emocionar novamente.

Camille Claudel e Auguste Rodin, os próprios

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