segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Foco de Luz ou Super Trouper - Parte VIII

Olá, pessoas!

Após o sucesso da peça "Callas", que você pode conferir aqui, hoje teremos a oitava parte do conto "Foco de Luz ou Super Trouper", de minha autoria. A história já está chegando ao fim, mas ainda tenho mais duas parte para postar.

Espero que todos estejam gostando da história! Por favor, comentem neste post ou na página do Música Na Vida no Facebook sobre a opinião de vocês!

Abraços,
Caio César.

***

Gustavo conseguiu terminar o colégio por meio de um supletivo, que ele cursou à noite enquanto trabalhava de atendente da livraria do centro da cidade. Juntou um dinheiro que sobrava do seu salário e conseguiu comprar um apartamento pequeno no subúrbio - ali ainda não havia chegado a especulação imobiliária. Conseguiu entrar para uma faculdade paga, onde fazia o curso de Administração, mas percebeu que ali não era seu lugar, e trancou para poder cursar Letras. Em contato com muitos livros e autores fantásticos, Gustavo pôde transcender o significado das letras, e entrou em contato com a teoria literária que havia sobre a música. Um dia, enquanto estava lendo mais uma obra literária para uma matéria, uma voz feminina o interrompeu:

- Posso me sentar?

Ele olhou a garota - alta, curvilínea, olhos verdes e com cabelos ruivos presos em um coque casual - e disse que sim, ela poderia se sentar. A garota colocou a cadeira ao lado da dele, e perguntou:

- Você não tá me reconhecendo?

- Eu deveria?

- Considerando que eu sou sua irmã, Gustavo Medina de Sousa, eu acho que sim!

Ele levou a mão à boca e, em uma exclamação contida, disse:

- Meu Deus! Olívia?!

- Oi, meu irmão!

Os dois se abraçaram e começaram a chorar juntos. Com medo de atrapalharem os outros estudantes da biblioteca, saíram dali e foram conversar no jardim.

- Olívia, como você mudou!

- Eu cresci, Tavinho!

- Tavinho?! Nossa, há quanto tempo eu não escutava esse apelido!

- Todo mundo só te chama de Gu, não é?!

- Sim! Só você e...

- ... A mamãe que chamávamos você de Tavinho... É...

- Como ela está?

- Doente. Nunca mais foi a mesma desde que você se foi.

- E o velho?

- Tavinho, isso é jeito?

- Queria que eu dissesse o quê?! "Papaizinho querido"?!

- Não, não... É só que... Ah, deixa pra lá: eu sei como você se sente, e não tenho o direito de te tirar a razão.

- Como ele está?

- Na UTI. Sofreu um AVC na semana passada.

- É muito grave?

- Talvez sejam os últimos dias dele.

- Hum...

- Você deveria visitá-lo.

- Por quê?!

- É seu pai.

- Não é mais. Foi ele mesmo que disse.

- Gustavo, isso tem mais de cinco anos! Já estamos em 1994 - não temos mais ditadura no Brasil, elegemos nosso presidente,...

- Mas ainda não acabamos com o preconceito contra os gays.

- Você, melhor do que ninguém, deveria saber que não é tão fácil assim...

- Eu sei, e é por isso que eu não vou visitar aquele velho homofóbico! - gritou, exaltado.

- Ele perguntou por você...

- O quê?! - Gustavo estava em choque.

- Ele perguntou de você. Ontem. Estou dormindo com ele no hospital, e ele chamou por você ontem. A noite toda.

- Que curioso... Agora ele lembra que tem filho.

- Gustavo, é sério: eu acho que ele quer se despedir de você.

- Se é por falta de adeus...

- Você tem noção de como é difícil, para mim, lidar com tudo isso?! Mamãe na sessão de quimioterapia para tratar do câncer no fígado?! Papai na UTI, com uma artéria estourada na cabeça?!

- Eu tenho mesmo que visitá-lo?

- Acho que seria bom pra você... Talvez vocês se acertem.

- Duvido muito...

- Você está namorando, não? Lembro de você ter mencionado isso na última carta que me mandou.

- Sim, estou... Mas não é mais aquela menina da carta: há dois anos estou namorando com uma garota chamada Raquel.

- Que bom, meu irmão...

- É...

- Por que você não vai com ela? O pai vai gostar de te ver com alguém.

- Não acho que seja uma boa ideia.

- Mas ela deve estar curiosa para conhecer sua família - dois anos juntos... Já era para você ter nos apresentado essa menina há tempos!

- Você sabe que eu quis manter o máximo de distância dele.

- Mas agora ele está quase nos deixando, Gustavo... - os olhos de Olívia se encheram de lágrimas - Faça isso por mim... Faça isso pela nossa mãe...

- Você acha que ele pode me aceitar?

- Ele está muito mal - duvido que recusará uma visita sua.

- Será?

- Tenho certeza.

Gustavo olha para o céu, que está acinzentado por conta das pancadas de chuva de fim de tarde que são tão comuns no verão. Uma gota de chuva o acerta no rosto, e ele interpreta isso como a resposta que ele precisava para seus problemas:

- Eu vou.

- Ótimo! Quando?

- Amanhã.

- Obrigada, meu irmão...

- Eu é quem agradeço, Olívia... Obrigado por ter segurado essa cruz, da qual eu fugi tantos anos.

- Eu te amo, Gustavo.

Os dois se abraçaram fortemente, e as lágrimas verteram em ambos os rostos.

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