domingo, 16 de julho de 2017

Peça teatral "A Sentença" - Apresentação de 15/07/2017


O filme "Doze Homens e Uma Sentença", cuja versão de 1958 com Henry Fonda é a mais célebre, representa a epítome dos filmes de um cenário só: passando-se quase que exclusivamente dentro de uma sala em um fórum, a película retrata um grupo de doze homens discutindo o destino de um criminoso, cuja pena só será outorgada pela Justiça caso seja unânime a decisão do grupo; porém, um deles está convencido da inocência do adolescente, acusado de assassinato, e sua atitude de proposição do diálogo trará à tona o melhor e o pior de cada um dos indivíduos ali reunidos. Transpor tal história para os palcos pode parecer, à primeira vista, um trabalho simples, mas engana-se quem se deixa levar por tal visão: a história é, sem dúvida, complexa e faz do texto seu maior trunfo, e dos atores, sua principal fonte de comunicação. Portanto, assistir à versão teatral do texto, na versão dirigida por Bernardo Felinto, foi um sublime presente para este sábado tão gélido.

Crédito: Movie Sense/ Divulgação





Com Luis Eduardo Bergamaschi no papel do moderador do debate, a peça traz inovações ao texto original de Reginald Rose ao colocar mulheres no meio do diálogo - são seis mulheres e seis homens no elenco principal, o que ajuda a equilibrar o jogo e a trazer uma verossimilhança quanto ao universo feminino e o discurso batido de que "mulher é emoção, e homem é razão". Aliás, a primeira voz dissonante quanto à condenação do jovem, acusado de esfaquear a própria mãe, é de uma mulher, mas seu gênero não é posto como algo digno de inferiorizá-la - ao contrário, ela é uma mulher empoderada, mãe de três filhos, que acredita que, antes de condenar um jovem a passar o resto da vida atrás das grades, é preciso diálogo e debate. Por meio de sua vontade em conversar, ela consegue convencer um por um sobre a inocência do garoto, mas cada um muda seu voto por motivos bem distintos uns dos outros.

Crédito: Facebook - Luis Eduardo Bergamaschi/Divulgação



São figuras de destaque nesta montagem: a jurada dissonante, com seu discurso coerente quanto às incongruências da condução do julgamento pela promotoria; a principal oponente desta, uma mãe de família cuja relação com seu filho é bem estremecida, e que acredita piamente na culpa do jovem; o explosivo jurado que, com seus palavrões e coloquialismos, traz ao espectador uma vontade de pegar uma faca, arma do crime em julgamento, e acertar nele, tamanha as asneiras por ele proferidas quanto às minorias sociais; e o jovem jurado (o jurado de número cinco) que, apesar de inicialmente votar pela condenação, muda seu voto ao perceber que o principal problema do grupo é que ninguém ali se ouve, mas todos pensam que, na verdade, o rapaz é, sim, inocente. Além do brilho dos atores em cena, ajuda bastante a iluminação do palco e, para complementar o roteiro já citado, as pausas dramáticas que vários momentos de tensão demandam.

O diretor da peça, Bernardo Felinto. Crédito: Facebook - Bernardo Felinto/ Divulgação


O texto de Rose é sublime, e adaptação dirigida por Felinto não deixa por menos, trazendo inovações necessárias para este se adaptar ao mundo moderno, com a ajuda de um elenco muito bem disposto em cena e entregue às emoções de seus respectivos personagens. "A Sentença" é um excelente trabalho de direção, por utilizar de forma brilhante um texto que já é um clássico moderno.

 Crédito: Facebook - Luis Eduardo Bergamaschi/ Divulgação

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