Desde a gênese do Tropicalismo, é necessário mais do que ouvir o disco de Caetano Veloso para entender sua persona – non grata, para alguns, mas catártica para outros. É preciso ir em seu show para ver de perto o que é aquele cabeludo para quem Roberto Carlos dedicou “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”. E assim fiz – fui ao show do Caetano, no Ópera Hall (antigo Marina Hall, que fica na beira do Lago Paranoá), junto da minha querida prima Poliana que, mesmo não sendo muito fã do trabalho dele, curtiu bastante o show e ficou mais interessada em ouvi-lo.
A turnê do disco “Abraçaço” conta com a Banda Cê, que acompanha Caetano desde “Cê”, lançado em 2006. Depois de meros cinco minutos de atraso, Caetano Veloso surge dadivoso no palco, trajando uma camisa de malha de manga longa vermelha, e abre o show com o mais recente hit “A Bossa Nova é Foda”, que fala de Anderson Silva e Vitor Belfort e de muitos outros lutadores de MMA. Logo após, surge “Lindeza”, apenas no violão branco de Caetano – simples e delicada, conforme manda a letra. Então, “Quando O Galo Cantou”, o mestre tropicalista mostra mais novidades musicais de “Abraçaço” – que intitula a música seguinte, “Um Abraçaço”. Então, ele dedica ao seu roadie a música “Parabéns”, também do disco novo, para fazer, logo em seguida, uma ode à masculinidade (não ao machismo, como alguns podem pensar) com “Homem”, em que, escrachado como só ele, deita e rola – literalmente – em cima do palco.
Então, surge “Um Comunista”, que era um mulato alto que decidiu lutar contra a utopia. Em seguida, Caetano retoma o famoso disco “Transa”, de 1972, como “Triste Bahia” – que todos cantam em uníssono, porque é um hino –, e continua o momento “deprê” com “Estou Triste”, do trabalho atual. Logo em seguida, vem “Odeio”, que mostra que a paixão é mesmo movida pela simbiose entre amor e ódio. Então, Caetano faz sua prece diária com “Escapulário”, e emenda com a controversa mas divertida “Funk Melódico”, de “Abraçaço”. Porém, a festa se acalma com “Alguém Cantando”, do disco “Bicho”, de 1977.
Dando continuidade à bucolia, o baiano canta “Quero Ser Justo”, que fala de justiça social e passional. Após isso, vem “Eclipse Oculto”, original de 1983, e uma apresentação belíssima de “Mãe”, canção de sua autoria presente no disco “Água Viva”, de Gal Costa, de 1978. Em seguida, Caetano faz a única mudança de seu setlist e substitui “Alexandre” – uma excelente música – por “De Noite na Cama” – uma música melhor ainda! E pensar que comecei a escutar Caetano Veloso por meio dessa canção, na gravação realizada por Marisa Monte no álbum “Mais”, de 1992... Nem preciso dizer que me diverti à beça nessa parte do show, preciso?! Em seguida, “O Império da Lei” se estabelece e o imperador Caetano nos presenteia com sua poesia musical e seu senso de justiça à toda instrumentação da Banda Cê. Logo após, mais uma bela apresentação de uma música autoral feita para outrem – no caso, a música é “Reconvexo”, e foi feita para Maria Bethânia, irmã de sangue e de alma de Caetano Veloso, para o disco “Memória da Pele”, de 1989. E, para encerrar o show, “Você Não Entende Nada”, de Caetano e Chico Buarque juntos ao vivo,do álbum homônimo de 1972.
O quê?! Encerrar o show?! Mas já?! Já nada – é claro que Caetano saiu do palco e voltou para o bis! Cantando “Vinco”, do disco novo, não levantou muito a plateia – poucas pessoas conheciam as letras de “Abraçaço” – mas foi começar os primeiros acordes de “A Luz de Tieta” que explodiu o Ópera Hall de tanta alegria e afoxé. Para encerrar – de vez – o show, Caetano Veloso mostra o “Outro”, aquele que é feliz e mau como um pau duro aceso no escuro. Novamente, Caetano só nos prova que só se faz completo quando no palco.
Apenas amei demais ver esse grande mestre da música popular brasileira no palco, e deixo aqui registrado que devemos valorizar mais a nossa cultura! Como disse Elis Regina, “vamos cantar logo, logo , o que é nosso, porque, mais do nunca, é preciso cantar o que é nosso” – as novas gerações não levam mais à sério os produtos nacionais, e preferem apenas importar o lixo musical americano para se dizer cool. Desde o começo de 2013, estou numa empreitada pela música brasileira e, no caminho, descobri “novos artistas” – aqueles cantores que marcaram a história da música, mas que eu nunca havia parado para ouvir corretamente – e, então, me deparei com Caetano Veloso, Gal Costa, Baby Consuelo, Novos Baianos, João Gilberto, Nara Leão,... Estou encantado, como uma nova invenção! Bem, claro que não poderia deixar de dizer que meus pais foram grandes mentores do meu gosto musical, e responsáveis por me mostrarem desde sempre o que era música boa. Hoje, eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude tá em casa! E é isso – temos que valorizar o que é nosso, porque temos que mostrar que não somos o novo quintal do Estados Unidos, onde eles despejam o que já não lhes é mais útil.
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