quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O meu adeus à MTV Brasil


No dia 30 de setembro de 2013, pouco antes da meia-noite, a apresentadora Astrid Fontenelle entrou no ar na tela da MTV Brasil e se despediu de todos – como ela disse, “apagou a luz” do canal. E, assim, com 22 anos de história, acabou a primeira emissora de televisão brasileira que levou a música e os jovens a sério, dando-lhes voz e militando por suas causas. Assim acabou a MTV Brasil.


Decerto, o canal já não estava nos seus melhores dias – a grade fora tomada por programas de humor e “enlatados” norte-americanos, e a música fora relegada aos programas que exibiam videoclipes repetidos à exaustão durante toda a madrugada, sem quaisquer ligações entre eles. Entretanto, o fim da emissora deixa, ainda assim, um imenso vazio no peito de seus fãs – e de todos os ex-VJs e ex-funcionários, que ralaram muito para “botar essa porra pra funcionar”, como berrou Caetano Veloso em uma das edições do VMB, a premiação anual da música brasileira, promovida pela MTV todos os anos.

Eu não era nem projeto de vida dos meus pais quando, em 20 de outubro de 1990, a mesma Astrid Fontenelle foi a primeira pessoa a aparecer na tela da MTV Brasil, “acendendo a luz” do canal. Nem quando, em seguida, a VJ Cuca Lazarotto apresentou o primeiro videoclipe da MTV – “Garota de Ipanema”, da Marina. Comecei a acompanhar o canal a partir de 2002, aos 8 anos de idade, e um dos primeiros videoclipes que me recordo é “Teto de Vidro”, da Pitty. Antes da MTV, eu era uma criança que só assistia a desenhos animados, mas já gostava de escutar “música de adulto”, pois meus pais me ensinaram desde cedo a gostar de música boa – Rita Lee, Sade, Beto Guedes, Pink Floyd, The Police, Suzanne Vega, entre outros. A MTV, entretanto, me apresentou o rock que os jovens à época escutavam, e me colocou cara a cara com o melhor da música nacional e internacional. 

Na MTV Brasil, junto de VJs do naipe de Didi Wagner, Sarah Oliveira, Edgard Piccoli, Daniella Cicarelli, Marina Person, Cazé Peçanha, Paulo Bonfá, Carla Lamarca, Penélope Nova, João Gordo, Marcos Mion, Kênya e Keyla Boaventura, Luísa Micheletti e Titi Müller, descobri grandes nomes da música, como Red Hot Chili Peppers, Alanis Morissette, Avril Lavigne, Pato Fu, Cássia Eller, David Bowie, Madonna, Britney Spears, The Cranberries, Eric Clapton, Kid Abelha, Gossip, Prince, Guns ‘n’ Roses, The White Stripes, Gwen Stefani, Janis Joplin, Joss Stone, Justin Timberlake, Sex Pistols, M.I.A., Luxúria (ex-banda da Megh Stock), Mallu Magalhães, Maroon 5, Marilyn Manson, Sia Furler, Tulipa Ruiz, The Corrs, Nightwish, e muitos outros mais. E me orgulho também de ter assistido a diversos programas, como “Disk MTV”, “Videoclash”, “Fanático MTV”, “Garagem do Edgard”, MTV Lab”, “Top Top MTV”, “Cine MTV”, “Casal Neura”, “Neura MTV”, “Total Massacration”, “Chapa Coco”, “MTV +”, “Covernation”, “Control Freak”, “Pulso MTV”, “Estúdio Coca-Cola”, Jornal da MTV”, “Beija Sapo”, “MTV Sem Vergonha”, “Meninas Veneno”, “Ponto Pê”, “Punk’d”, “Pimp My Ride”, “Megaliga MTV de VJs Paladinos”, “Fudêncio e seus Amigos”, “Infortúnio com Funérea”, “Quinta Categoria”, “Hermes & Renato”, “15 Minutos”, “Furo MTV”, “Rockgol”, “Balela MTV”, “Mucho Macho”, “Descarga MTV”, “Daniella no País da MTV”, “Overdrive”, “Gordo Freak Show”,... Foram tantos, e tantos bons, que não caberiam todos aqui!

Em 2009, parei de assistir à MTV Brasil – a SKY, operadora de televisão a cabo, encerrou o contrato sobre a exibição do canal em Brasília – mas continuei a acompanhar pela internet. Por 11 anos, me mantive a par da MTV, e é inegável que me senti deprimido ao saber do problema financeiro que levou ao fim da emissora. Não que a situação fosse boa antes dessa crise, visto que a MTV, por acreditar no mercado alternativo e exibir uma programação mais voltada para o underground, não tinha muito grandes patrocinadores, mas poucos acreditaram que o fim era iminente. Todos os fãs dos tempos áureos da MTV Brasil se sentiram impotentes diante deste fato.


No presente ano de 2013, o Grupo Abril devolveu a marca MTV para a Viacom, e anunciou oficialmente o fechamento da emissora. Começou, então, a exibição do “MY MTV”, o programa mais alegre e triste de toda a história da MTV – os VJs mais célebres, já contratados por outras emissoras, diante do famoso chroma key, relembrando seus melhores momentos no canal e os melhores videoclipes que já haviam sido apresentados ali. Obviamente, chorei bastante ao ver os VJs da minha época relembrando programas e videoclipes que havia assistido ali tantas vezes, e me rememorando histórias da minha infância. Ali, desmitifiquei aquele velho ditado – eu era feliz, e sabia, sim, que era! Também me emocionei com Cuca Lazarotto, que não era da minha época mas era bem famosa e bem-afamada no meu tempo, anunciando “Maracatu Atômico”, do Chico Science com a Nação Zumbi, como o último videoclipe da MTV Brasil. Apesar de não ser nem um pouco fã da música nem da banda, sei que aquilo era uma mostra da marca Brasil na badalada marca MTV! A última vinheta, mostrando imagens do público que tanto prestigiou a MTV Brasil com “Orra Meu”, da Rita Lee, como trilha sonora, foi emocionante, e fez doer o peito ao perceber a falta que o canal fará a televisão brasileira.


Sei que já foi inaugurada uma nova MTV Brasil – totalmente repaginada, sem VJs, exibindo “enlatados” da televisão norte-americana, e com figuras como Supla e Fiuk como apresentadores dos programas – mas nunca será a mesma coisa. Aquela MTV Brasil que conheci acabou, e, com ela, uma parte do amor à música e do respeito à cultura. Agradeço a cada minuto que assisti à programação do canal, a cada meio-dia em que aparecia o letreiro “Desligue a TV e vá ler um livro” que lá permanecia por duas horas, a cada videoclipe ansiosamente esperado para passar nos programas, a cada “Disk MTV” e toda a adrenalina e todo o suspense que cercava o primeiro colocado todos os dias, a cada e a todos os VJs que vi no ar e a todos que não pude ver. Obrigado, MTV Brasil, por todo o aprendizado a mim proporcionado!


Vou sentir saudades da MTV Brasil que conheci...


2 comentários:

  1. Anônimo10:04 PM

    Foz do iguaçu já passou por uma situação quase parecida com o fim da Rede Transamérica FM porrada dos anos 90. Agora o some do canal 15 UHF da cidade e de todas as operadoras de tv por assintura a Music Television Brasileira que afundou cicatrizes na moçada que não via a hora de ligar a teve pra acompanhar a Astrid com o TOP 20, o Thunderbird com o CEP MTV, Zeca Camargo com MTV no AR, Fabio Massari com os Clássicos, Cuca, Gastão com o Furia Metal, Cazé depois com o Teleguiado e muitos outros artistas que fizeram parte.
    Poxa vida, sinto uma dor no peito por esses acontecimentos. O Brasil nunca teve tanta irreverencia e criatividade juntas como nesses dois canais da mídia. Só que acompanhou sabe. Parabens a Rede Transamerica dos anos 90 e a MTV Brasil - Mãe da criatividade jovem brasileira na TV. Abraços.
    Adriano.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Adriano,
      A MTV Brasil que vimos realmente fará falta. Infelizmente, não fui da época que viu Cuca e Zeca Camargo, mas fui muito feliz na época que vivi a MTV. Na minha cidade (Brasília) não tem uma rádio assim, que faça a diferença na música, mas sei como é importante o papel das rádios na divulgação cultural.
      Hoje em dia, faz-se toda a divulgação pelas redes sociais virtuais, mas nada substitui o poder do rádio, na minha opinião. Espero que possamos, um dia, ressuscitar as rádios como elas eram - fizeram isso com o vinil, por que não com o rádio?
      Agradeço o comentário, Adriano! Volte sempre ao Música Na Vida!
      Abraços,
      Caio César.

      Excluir