terça-feira, 29 de julho de 2014

Foco de Luz ou Super Trouper - Parte II

Olá, pessoas!

Antes de mostrar a todos a segunda parte do conto "Foco de Luz ou Super Trouper", tenho que comunicar que já tenho programação para mais dois espetáculos, que se apresentarão em Brasília em agosto! No dia 3 de agosto, a peça "Callas", estrelada por Sílvia Pfeiffer e dirigida por Marília Pêra, aporta por aqui, contando a história de vida da soprano Maria Callas e seus últimos dias de vida. Já no dia 23 de agosto, Mateus Solano se apresenta com "Do Tamanho do Mundo", com roteiro escrito por sua esposa Paula Braun.

Fiquem sempre de olho no Música Na Vida, pois as novidades nunca têm hora para chegar! Agora, deleitem-se com a continuação do conto "Foco de Luz ou Super Trouper"!

Abraços,
Caio César.

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Gustavo tinha nove anos quando ganhou o LP "Super Trouper", mas fez o possível e o impossível para conseguir comprar os outros LPs da banda - vendeu seus gibis da Turma da Mônica, vendeu sua coleção de tampinhas de Coca-Cola, economizava metade do dinheiro do lanche, começou a cobrar para fazer trabalhos para seus colegas de classe,... Aos treze anos, ele já tinha todos os LPs, e ganhara de presentes de seus pais, Nieta e André, uma vitrola portátil no seu aniversário de 12 anos. Ele achava que os pais lhe deram a vitrola porque estavam cansados de escutar os mesmos discos da mesma banda todos os dias - mas ele não se importava, pois a felicidade de agora ter uma vitrola só dele era muito mais esfuziante do que qualquer questionamento.

Na escola onde estudava, Gustavo, infelizmente, não tinha a compreensão de seus colegas quanto ao seu gosto musical - os meninos batiam nele e o chamavam de "viadinho" e de "pederasta", sem ele saber nem ao menos o significado daquelas palavras, enquanto as meninas caçoavam dele e sempre queriam pegá-lo para testar suas novas maquiagens. Com o tempo, Gustavo entendeu o porquê de todo aquele sofrimento e se calou - parou de falar sobre o ABBA, e parou de cantarolar as músicas na escola. Parara, então, de ser ele, para assumir uma persona na escola. Gustavo não era mais Gustavo quando estava na escola - era o garoto apático e estranho da turma. Seus colegas haviam parado de conversar com ele, e ninguém lhe enchia mais a paciência - comentava-se que ele havia batido em um colega de classe, e todos agora tinham medo do garoto estranho. Gustavo era, em 1986, uma vítima silenciada do bullying.

Em casa, no entanto, Gustavo tentava ser mais feliz, mas ele se sentia cada vez mais preso - Olívia já dissera que ninguém gostava mais de ABBA, que aquilo era música velha e que o que fazia sucesso agora era Cyndi Lauper; André vociferava com o garoto, acusando-lhe de ser um "invertido" e que ele não toleraria aquele tipo de comportamento sob seu teto; a tia Márcia e o tio Yuri diziam que era melhor Nieta e André colocarem o menino no internato ou no Exército. Cada um falava uma coisa, mas ninguém percebia o sentimento de tristeza que tomava conta da mente de Gustavo. Ele se perguntava constantemente: por que ele não podia escutar sua música em paz? Por que ninguém entendia que o ABBA era importante para ele? Uma banda preferida era capaz de definir caráter? O que ele ouvia definia quem ele era? As perguntas ecoavam na cabeça de Gustavo, mas ele não encontrava respostas.

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