Certa vez, em entrevista a Aguinaldo Silva, Marília Gabriela se definiu como "um prato muito indigesto para pessoas de paladar monolítico" - e creio que não há definição melhor para a peça "Constelações", que Gabriela estrela ao lado de Sérgio Mastropasqua, com direção de Ulysses Cruz e tradução de Marcos Daud sobre texto original de Nick Payne. Diante de tantas reações de curiosidade do público, a atriz, ao final da apresentação, contou um pouco da história do dramaturgo inglês, cujo maior sucesso é este texto, e do surgimento da ideia de "Constelações": o pai de Payne morreu e, deprimido, o autor se tornou um recluso, passando dias na frente da televisão. Um dia, deparou-se com um interessante programa sobre cosmologia, focado na teoria das cordas - de forma resumida,ela afirma que as partículas atômicas são filamentos unidimensionais vibrantes que, quando vibram, originam partículas subatômicas - e, inspirado pela ideia de multidiversidade de universos paralelos, sentou e escreveu o texto da peça, que logo se tornou um sucesso de público na Broadway.
Crédito: Comunidade VIP/ Divulgação
A história de "Constelações" é a história de Mary-Anne e Roland, e de como eles se conheceram, se relacionaram, se separaram, reataram e encararam um tumor no cérebro - e tal trajetória é contada sob diversos universos paralelos, cada um com acontecimentos e fatos singulares e intrínsecos, além de desfechos distintos porém com algumas repetições de padrões. Mary-Anne é astrônoma, enquanto Roland é apicultor, e, apesar de viverem vidas tão diferentes, se unem e vivem um amor forte porém irregular em todos os universos mostrados em cena. Toda a história é contada em um único cenário - uma plataforma suspensa por cordas, em alusão à teoria que inspirou a peça, que é uma criação belíssima de Verônica Valle - e isso dificulta, sem dúvida, a compreensão do grande público sobre o que é a história por, pelo menos, a primeira hora do espetáculo. No entanto, pessoas mais atentas logo perceberão que são os mesmo personagens mas que, depois de fazerem escolhas e opções, têm desfechos e destinos diferentes em cada universo que habitam.
Crédito: O Jornal de Uberlândia/ Caio Gallucci
Marília Gabriela é um primor em cena - mais conhecida por sua faceta jornalística, por conta dos programas de entrevistas que apresentou em diversas emissoras de televisão, abertas e fechadas, como GNT, SBT, TV Cultura, Band, entre outras, a Marília atriz é arrepiante e cumpre bem sua missão de tirar do público a impressão de estar vendo a Marília apresentadora em cena. Sérgio Mastropasqua, que reveza o papel de Roland com Caco Ciocler, é um ator mais voltado para o cinema - fez filmes como "Bicho de Sete Cabeças" e "Cristina Quer Casar" - mas não deixa de ser um excelente profissional do palco, apresentando um personagem de muitas camadas e muitas carências e compaixão. Além disso, a direção de Ulysses Cruz é certeira ao colocar em cena uma espécie de dança entre os atores durante as mudanças de universo, que ocorrem e rápidos blecautes - a peça ganha ares musicais que fazem muito bem para suavizar a complexa mensagem dos multiversos que a história visa a transmitir ao público geral.
Crédito: Aqui Tem Diversão/ Miro
A cenografia, como dito anteriormente, é linda - e o mesmo se aplica à trilha sonora de Miguel Briamonte, que visa a adaptar "As Quatro Estações", de Vivaldi, para o contexto da história em cena. O figurino de Marília Gabriela é curioso - sua peruca lembra um pouco os penteados da apresentadora nos anos 1980, na época do programa "Cara a Cara" - e é criação de seu filho, Theodoro Cochrane, que também assina o visagismo. Agora a produção local do evento foi um tanto conturbada: tive problemas com meu assento, pois me venderam erroneamente um assento reservado a deficientes físicos - não havia marcação alguma no site onde realizei a compra - mas, felizmente, a situação foi resolvida tão logo tocou o terceiro sinal de aviso para o início da apresentação.
Crédito: Morente Forte/ Divulgação
Ao final do espetáculo, depois de Gabriela explicar um pouco mais ao público do que se tratava a história, consegui conversar um pouco com a atriz sobre o
Música Na Vida e tiramos juntos uma foto. Marília é encantadoramente simpática e ficou muito feliz em saber que a presente resenha crítica seria publicada - espero que tenha gostado, minha cara, pois aqui ela se finda.
Crédito: Arquivo pessoal
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