domingo, 6 de novembro de 2016

Peça "God" - Apresentação de 06/11/2016

Falar de religião com humor, em pleno dia de redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) com tema intolerância religiosa, poderia ser facilmente uma cilada para qualquer ator - mas Miguel Falabella não é qualquer ator. Com sua personalidade irreverente e seu humor irrepreensível, Falabella faz em "God" o Deus mais sincero e engraçado que poderia ser. Nem mesmo Jim Parsons, ator norte-americano, conhecido do grande público por sua atuação no seriado geek "The Big Bang Theory", que estrelou a versão original da peça na Broadway, poderia apresentar este texto de forma tão orgânica e eloquente como Fallabella o fez.

Créditos: Teatro UNIP/ DIvulgação

Com pouco mais de cinco minutos de atraso, soou o terceiro sinal e começou "God" com os créditos da montagem sendo passados em um telão (confesso que achei uma excelente ideia para enaltecer o trabalho da equipe técnica, fundamental para todo e qualquer espetáculo teatral), e, então, surge Miguel Falabella, todo de branco, do alto de uma escadaria, ladeado por seus dois arcanjos, Gabriel e Miguel (Magnon Bandarz e Elder Gattely, respectivamente), com Deus nele encarnado, a fim de levar ao público uma importante mensagem divina. Ao longo da peça, Deus nos conta anedotas sobre o surgimento do Universo e também fala que, por estarem defasados por conta da sua antiguidade, os Dez Mandamentos serão mudados a partir de então.

Créditos: Dicko Lourenço/ Divulgação

Nos novos Mandamentos, temos Deus mostrando que está cansado de ser chamado à toa, que não faz a mínima diferença com quem nós, seres humanos, transamos ou deixamos de transar, que é imperfeito e cheio de falhas, e que, sim, fomos criados à sua imagem e semelhança porque também somos desprovidos da perfeição. Além disso, ele nos conta trechos inéditos da Bíblia e de sua relação complicada com Sassá - sim, ele mesmo, Satanás. Falabella é, sem dúvida, um ator de marca maior e entrega ao público um Deus carismático, animado, pansexual, atualizado com as novas tecnologias, e cheio de dúvidas e questionamentos. Os atores que fazem os anjos também são impecáveis - Bandarz é caricato, enquanto Gattely é mais voltado para a expressividade.

Créditos: Dicko Lourenço/ Divulgação

O humor é, sim, predominante no texto, mas há espaço para o drama - e ver Miguel Falabella em um drama é algo raro, porém belo e singelo tamanha a magnitude deste ator - como, por exemplo, quando Deus conta de seu amor incondicional por Abraão e da corajosa saga de um de seus filhos, Jesus Cristo. Eu devo admitir: sou agnóstico, então creio que sou o melhor público para o texto de "God", já que este brinca com todas as religiões, mas sempre com respeito à crença de outrem. Religiosos mais radicais podem, eventualmente, se sentirem ofendidos em diversos momentos, mas cabe à consciência de cada um separar o que é intolerância religiosa e o que é humor pura e simplesmente.

Divulgação da montagem original de "An Act of God", com Jim Parsons no papel principal. Créditos: Vanity Fair/ Divulgação

Ao final da peça, a mensagem de Deus é linda e louvável, e me fez pensar em uma frase que é popularesca, mas tão somente verdadeira: "Jesus é da hora, o que estraga é o fã-clube" - se não fossem aqueles que dizem falar em nome d'Ele, sem nem ao menos seguirem o que Ele fazia, talvez não houvessem tantos conflitos religiosos por aí... Depois de sair do auditório do Teatro UNIP, consegui falar rapidamente com Miguel Falabella, que, muito simpático, tirou uma foto comigo e me concedeu um autógrafo. Saí dali, sem dúvida, mais leve e mais de bem com a vida - ainda que eu não seja religioso, ouvir a Palavra de Deus, quando bem dita, não faz mal a ninguém.

Créditos: Arquivo pessoal

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